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Coluna de Severino Coelho de Pombal

“O Adeus ao Promotor Eriosvaldo da Silva”

Por

28/04/2008 às 19h49

Uma mensagem na nossa caixa postal de telefonia celular nos estarreceu de surpresa, com o efeito repentino, noticiando o falecimento do nosso colega Promotor de Justiça, ERIOSVALO DA SILVA, ocorrido por volta das cinco horas da manhã, do dia 26/04/2008, levando-nos a uma reflexão sobre a existência de um ser e a vida humana, principalmente quando o engodo desta notícia aperta a nossa estrutura emocional e indica o desaparecimento de pessoas íntimas do nosso círculo de amizade, que a acolhemos na irmandade da convivência e remete ao nosso sentimento de fraternidade, no mundo de nossas vidas, que foi produzido por força da mãe natureza.

A nossa passagem na vida terrena deixa marcas que não desaparecem como um sopro do vento, mas edifica castelos inamovíveis de bons exemplos, que se perpetuam na nossa memória, redesenham o sonho de lutas e reanimam as esperanças na busca de novas conquistas.

É passageira, sim, porém há um círculo de rotatividade no seio dos seres viventes. Um passa com a sua mensagem, outra capta a mensagem e procura seguir o seu itinerário, e o mundo segue no percurso de seus mistérios.

O exemplo desta garra de viver, nós encontramos guardado na agenda de nossa amizade quando abrimos à página da vida de ERIOSVALDO SILVA, um lutador incansável por uma vida digna e um desbravador de espaços íngremes para alcançar o seu lugar de destaque na escalada da pirâmide social.

Conhecemo-nos na década de 1990, quando ele exercia a titularidade na Promotoria de Justiça da cidade de Pombal, minha Terra Natal, pelo seu modo de vida solidária e o dom de seu carisma, logo encontrado na penetração do olhar firme e no seu sorriso largo de benfazejo, fincamos uma amizade pessoal e de coleguismo profissional, que redundou num abraço forte da matéria humana e continuará como um facho de luz no liame espiritual.

Sábio é quem se erige nos dogmas da humildade, fonte do conhecimento profundo, e não deseja ardentemente o palácio de glória na vida terrena.

Nunca a simplicidade de um homem diminui o tamanho de sua fortaleza, assim era ele, até nos momentos mais difíceis de sua vida, quando lutava contra o inimigo oculto que debilitava o seu sistema orgânico, soube ser forte, sem quedar-se ante os temores.

Nascido na pequenina cidade de São José de Piranhas, as portas do mundo abriram-se para recebê-lo, no dia 21 de dezembro de 1964, onde depois fixaria residência na cidade de Cajazeiras, tempo de obscurantismo que o regime autoritário tentava definhar o Estado Democrático de Direito, mas não ofuscava o sonho do idealismo.

De origem humilde, como quase todas as crianças nascidas nos rincões sertanejos, porém com o destemor dos heróis, sempre defendia os postulados libertários em defesa dos menos favorecidos, pois o início de sua vida apontava que o trabalho consistia nos recursos mais poderosos da vida humana. Este é o seu norte, sua bússola de orientação e o caminho de sua redenção.

Por isso, começou a trabalhar desde tenra idade, primeiro como guia de cego, passou a vendedor de picolé e depois servente de pedreiro, porque trazia como emblemática de seu coração, o lema de que todo trabalho é digno, vergonhoso é o ócio. Sem vacilar nem desistir em nenhum momento do seu ideal maior.

Trabalhava para ajudar na renda familiar e seu próprio sustento, e, ainda, estudava para melhorar e direcionar o rumo de sua vida.

E, assim, diuturnamente, conseguiu terminar o segundo grau, ingressou na Faculdade de Direito, concluiu o curso superior, logrando aprovação no concurso público para Promotor de Justiça, com destacada atuação no Ministério Público do Estado da Paraíba.

Os seus longos anos de trabalho na Promotoria de Justiça de Pombal, onde prestou relevantes serviços, elogiado pelos jurisdicionados, fazendo com que o Poder Legislativo daquela comuna lhe rendesse a homenagem merecida, reconhecendo-o como cidadão pombalense.

Naquele período tornou-se um grande aliado da educadora e líder comunitária, Margarida Pereira da Silva, que realizava um brilhante trabalho de assistência social em defesa da criança e do adolescente, com sua orientação e participação no Clube do Menor Trabalhador, utilizando-se os métodos de atuação preventiva, no sentido de minimizar a exclusão social das crianças carentes.

Recordo-me, que por ocasião do velório da professora Margarida, que foi vitimada por um acidente automobilístico, com a voz entrecortada e olhos mergulhados em lágrimas, receoso de que a causa fosse intercalada, ele me falou sem pestanejar:
__ “Coelho, perdemos uma amiga e mulher guerreira e batalhadora, as crianças pobres ficaram mais órfãs, pena que Pombal tenha cometido tanta injustiça com esta mulher caridosa, mas o seu trabalho agora será reconhecido”!

Uma outra característica de sua vida era o amor pela vida esportiva, relembramo-nos de seus passos firmes no calçadão e de sua paixão pela corrida olímpica.

Sempre que nos encontrávamos na orla marítima, e ele se esforçando anualmente para a corrida de São Silvestre, até enquanto pôde, é tanto que a última competição que participou, melhorou consideravelmente a sua classificação!

Sentiremos, também, amigo guerreiro, a sua ausência nas reuniões da diretoria da Associação do Ministério Público, trazendo suas idéias e suas sugestões no aprimoramento de nossa entidade, participando ativamente, particularmente no setor esportivo.

Todos esses lances de sua vida terrena nos enredam para um sentimento de profunda dor; dor esta somente aliviada pelo remédio da fé; fé que não se apaga com a morte, morte do sofrimento que glorifica a vida eterna!

A perda é irreparável para sua família, como um ente querido; para os seus amigos, como um irmão das horas incertas; e para nossa instituição, como um membro atuante que sabia defender tenazmente a ordem jurídica e o regime democrático.

A sua partida nos deixou transtornados, até porque foi cedo demais. Resta-nos conformar com o consolo recebido pela força Divina, fazendo a nossa corrente de orações que haverão de sublimar o seu espírito na Casa do Pai.

João Pessoa – PB, 27 de abril de 2008.

SEVERINO COELHO VIANA
CONTATO: [email protected]

Coluna transcrita do site da liberdade96fm

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