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Trabalhadores partem para tentar a sorte no Sudeste do País

Todo ano a situação se repete. Empurrados pela necessidade cada vez mais crescente de emprego na luta pela sobrevivência, grandes levas de jovens trabalhadores rurais de Aurora são obrigados a deixar a sua terra natal para se aventurarem na agricultura canavieira do interior de São Paulo. Esta realidade é hoje uma constante na vida de […]

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03/06/2009 às 18h01

Todo ano a situação se repete. Empurrados pela necessidade cada vez mais crescente de emprego na luta pela sobrevivência, grandes levas de jovens trabalhadores rurais de Aurora são obrigados a deixar a sua terra natal para se aventurarem na agricultura canavieira do interior de São Paulo. Esta realidade é hoje uma constante na vida de um grande números de jovens espalhados por diversos pequenos municípios do Nordeste.

É quase uma diáspora dos tempos modernos, uma vez que diversas famílias são separadas por forças das contingências, na busca de melhores dias.

Esta migração anual vem virando rotina na vida de centenas e centenas de família de cidades do Cariri e do Nordeste como um todo. Uma prova de que o Brasil ainda não conseguiu resolver de verdade as suas mais gritantes contradições agrárias e, tampouco o grande sofrimento conferido ao trabalhador rural da chamada agricultura familiar ou de subsistência. Nos anos de estiagem prolongada ou de seca verde como agora, o problema se agrava. Nestes períodos de verdadeiras calamidades, o número de pessoas que resolvem abandonar temporariamente sua terra é gritante.

A falta de uma reforma agrária efetiva se expressa cada vez mais nestes verdadeiros movimentos migratórios que anualmente se repetem de forma cada vez mais intensa e crescente no alto salgado.

Um fato às no mais das vezes lamentável quando se leva em conta as condições produtivas das terras nordestinas e do vale do Cariri. Há ainda por outro lado, um verdadeiro corte familiar quando muitos são quase que forçados a deixar para trás famílias inteiras. Este incrível acontecimento carrega no seu bojo, uma constatação: a de que o Brasil necessita com urgência de uma reforma agrária séria e efetiva voltada para entre outras coisas, garantir a fixação do homem na sua própria terra. Existe hoje em todo o Nordeste um notório esvaziamento e abandono do campo. De modo que é possível constatar também o processo cada vez mais intenso do êxodo rural.

O abandono do campo é hoje, uma realidade das mais preocupantes. Algo que está a ocorrer em todos os recantos rurais do Ceará e do Cariri com especialidade. Nossa zona rural está virando um deserto. O clima de abandono é quase total. A produção algodoeira e canavieira agora é quase inexpressiva. Um acontecimento que, ao que se percebe começa a se perder de vez nas brumas do passado.

Os antigos engenhos de rapadura que antes eram a marca do Cariri e do Nordeste hoje praticamente não existem mais. Causando assim um grande baque na base da principal economia dos nossos sertões. Os velhos engenhos hoje no Ceará não passam de um símbolo remoto de uma saudade que nunca passa. A solidão e o abandono são hoje duas faces de uma mesma moeda quando se trata da zona rural como lugar de moradia, produção e fonte de renda.

Casebres e até os velhos casarões dos antigos coronéis estão hoje em completo estado de abandono. Uma situação que bem denuncia também o abandono em estiverem(e ainda hoje) continuam submetidas populações inteiras do nosso interior rural.

Que são como que obrigadas a deixar suas terras para trás em busca da ilusão de melhores dias nas cidades e até mesmo em outras regiões desenvolvidas do país, o que só agrava ainda mais a situação vivida pelas grandes metrópoles brasileiras.

A partida do ônibus é uma tristeza. Mães, esposas, namoradas, filhos e parentes todos ficam com o semblante cortado pelo choro e os olhos mergulhados em lágrimas. As ruas que contornam a pracinha com a estátua do Padre Cícero ao centro, parece ainda mais pequena diante do grande número de pessoas que testemunham mais um triste espetáculo na vida da juventude sertaneja. O clima de despedida parece entristeza a todos, tanto os que partem quanto os que ficam. Todos ali parecem apostar na perspectiva de um futuro melhor. O apostar no futuro é a tônica de cada um dos que parte deixando seu torrão para trás. Para muitos deles, este acreditar logo se transformará em ilusão. A vida difícil também os acompanha até o corte da cana no interior paulista. Alguns, segundo confidenciam, conseguem juntar algumas economias, outros na sua maioria, sequer conseguem o dinheiro suficente para o retorno no tempo marcado. Quando outros não voltam nunca mais.

 Vítimas que são dos seus gatos, dos trabalho escravo, ou mesmo de algumas das várias enfermidade que os acometem nas terras do Sul. Mas a saudade de casa, é no mais das vezes um fardo muito mais pesado do que o trabalho braçal empreendido no corte do canavial. A fé assim como a vontade de voltar para o seio do seu lar os anima. De tal modo que os dão em alguns casos, a energia necessária para agüentar aquele martírio com a mesma bravura somente conferida aos verdadeiros heróis. E eles partes como deserdados de uma nação distante, querendo uma nova chance de abraçar a liberdade tanto quanto o sonho de grandeza, que os animará até o retorno no final do ano.

O ônibus parte. Acenos de mãos dos dois lados se repetem como um espetáculo repetidamente ensaiado até o instante da partida. Abraços de despedidas, beijos de até breve, aperto de mão, palavras de boa sorte e vai com Deus. Frases curtas mas que na repetição quase desenfrada funcionam como afagos aos olhos e o coração de todos aqueles homens, jovens, que se entregam ao sabor da sorte e do destino como autêntico Prometeu do sertão. Sempre acreditando que o amanhã será sempre possível a partir de uma construção coletiva com as forças seus braços e a energia das suas mãos, coração e mentes. Eles não esperam que o futuro aconteça por si mesmo, como muitos o fazem.

 Eles vão lá e o constrói com seu esforço, coragem e disposição de luta. Sempre acreditando em Deus toda divindade parece está do lado deles.O padre Cícero no alto da praça também parece também insinuar uma benção para todos. E eles todos acreditam neste mistério. A esperança é tudo que lhes restam. E eles de agarram a ela como o mandacaru do sertão, confiando sempre na segurança máxima dos seus espinhos.

Aurora agora começa a ficar para trás. O futuro é uma estrada longa, quase sem fim. O destino lhes espera no além-flornteira dos extensos canaviais paulistas. E assim eles se matêm conformado com o destino que lhes foram confiados. Ninguém sabe ao certo o que lhes espera nos confins do mundo. O desconhecido há muito passou a povoar o imaginário desta gente da Aurora forte, destemida e sonhadora. Como de resto acreditam piamente no velho ditado carcomido de que quem cedo madruga: Deus Ajuda. Mas muitas vezes Deus parece está ocupado demais para testemunhar todo o drama e o sofrimento vivenciado pelos sertanejos canoeiros dos sertões de Aurora e do Nordeste inteiro. Agora espalhados pelas terras do rincão do mundo, lugar onde o sertanejo quase é ainda hoje transformado, no que um dia Euclides nominou de “hércules quasímodo”. Mais não. O homem caririense onde quer que esteja ou é uma lenda ou um indelével sinônimo de valentia e consideração.

– Vai como Deus meu filho! Meu padim padim ciço lhe proteja e guarde!
– A bença minha mãe! – Deus te abençoe meu filho!! – Eu te amo meu amor! – Um cheiro minha Nega! Já já nós tá de volta.
O ônibos aumenta a velocidade. Aurora agora é uma miragem. Uma lembrança a povoar o imaginário de todos aqueles que no interior do veículo começam a dirigir seus olhares e pensamento para o que ficou para trás como também pelo mistérios das coisas e dos acontecimentos que os esperam na distância. A partir deste instante cruel, os canavieiros da Aurora não têm mais escolha senão acreditar na esperança de que um novo amanhã é possível a partir das suas crenças e na feitura dos calos nas suas mãos.

LUIZ NETO
Da redação de Aurora_Ce

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