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Bispo protesta: Político que aumenta salário é assassino

Esses milhões que eles tiram da saúde estão matando gente - justifica em entrevista a Terra Magazine.

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23/12/2010 às 17h14

O aumento salarial de 62% que os parlamentares deram a si mesmos na última semana é, para o bispo Dom Manuel Edmilson da Cruz, equivalente a um crime com morte. O bispo de Limoeiro do Norte (CE) foi ao Senado nesta terça-feira (21) para receber uma homenagem, mas recusou-a e passou sermão nos presentes.

– Esses milhões que eles tiram da saúde estão matando gente – justifica em entrevista a Terra Magazine.

Dom Edmilson foi convidado a receber a Comenda dos Direitos Humanos Dom Hélder Câmara, que foi entregue pela primeira vez no Senado. Aos 86 anos, ele explica por que encarou a viagem só para dar bronca nos senadores:
– Se eu não fosse, não haveria o que houve. Não haveria uma palavra representando todo o povo brasileiro.

Numa conversa em que o bispo até parou para ler trechos da Bíblia, ele comenta que já se motivou a protestar contra outros casos de corrupção que saíram na imprensa.

– O caso do Paulo Maluf, por exemplo. É um celerado (sinônimo de criminoso). Eu não julgo a pessoa, pode ser até um santo filho de Deus, mas o que ele faz… Não é só de um cinismo. É celerado aquilo ali.

Leia a entrevista na íntegra.

Terra Magazine – Por que o senhor decidiu recusar o prêmio e fazer esse protesto em Brasília?
Dom Manuel Edmilson da Cruz – É muito claro. Quando você pensa nos brasileiros contribuintes, todos nós pagamos. Tiramos do nosso suor, do nosso trabalho, da nossa vida. Esse é um direito do contribuinte. E dizer que é uma homenagem a Dom Helder é outra coisa aberrante. Porque Dom Helder jamais pensaria assim. A vida dele foi o contrário de tudo isso.

E como foi a reação dos senadores?
O senador Cristovam Buarque aplaudiu assim que ouviu. Mas pouca gente estava lá. Outros fecharam um pouco o rosto e não gostaram, não! Acharam que não era o caso de dizer aquilo lá naquela ocasião. Mas a ocasião era aquela exatamente.

Por que o senhor foi a Brasília mesmo sabendo que não ia aceitar a homenagem?
Porque, se eu não fosse, não haveria o que houve. Não haveria uma palavra representando todo o povo brasileiro. O povo todo disse que aquilo sim era a palavra deles. Que eles se sentem felizes sendo cristãos por causa disso. Então o momento era aquele mesmo. Mas não é coisa arrogante, não. Eu falo é por amor.

O senhor acha que as pessoas deveriam protestar mais?
Acontece que, tirando exceções, a nossa política não pensa em povo. Pensa em época de eleições de um modo falso. Conhece os problemas, mas em teoria.

O senhor tem 86 anos. Já houve outras situações que o indignaram tanto?
Sim. É uma coisa muito pesada, mas eu já disse isso em Câmara, em Assembléia… Que votar em político corrupto é votar na morte. Isso está provado mais uma vez. Esses milhões que eles tiram da saúde estão matando gente. E na educação? Quando o menino não tem coisa para comer, mata a educação. E o transporte? Nas estradas todo o dia perdem a vida, os trechos esburacados. A pessoa perde a vida e o bandido leva o carro dela. Isso são crimes. Eu tenho aqui no bolso, vou ler para você a palavra de Deus, escrita há séculos. (Faz uma pausa para ler).

Eclesiastes capítulo 34, versículos 25 a 27: O pão dos indigentes é a vida dos pobres. Quem dele os priva é sanguinário. É assassino do próximo quem lhes rouba os meios de subsistência. Derrama sangue quem priva o assalariado de seu salário.

É isso que está acontecendo.

Em que outros casos o senhor ficou tão indignado como dessa vez?
O caso do Paulo Maluf, por exemplo. É um celerado (sinônimo de criminoso). Eu não julgo a pessoa, pode ser até um santo filho de Deus, mas o que ele faz… Não é só de um cinismo. É celerado aquilo ali. O presidente do Senado (José Sarney), por exemplo. É um grande homem, mas tem aquelas acusações. Eu o admiro muito, mas o colocaram no Amapá. O que é que ele tem a ver com o Amapá? A família dele hoje também tem as mesmas consequências desastrosas. Eu estou falando assim com muita veemência, mas é também com muito amor. Rezo por ele todos os dias.

Mas o que falou que aconteceu no Maranhão?
Eu estava lá quando era bispo novo e ele (Sarney) ainda era governador. Ele desbancou lá. Estava fazendo aquilo que ele faz hoje, mas muito pior. Isso é que acaba com a vida de cada cidadão. Tem gente morrendo por causa disso. O SUS (Sistema Único de Saúde) é uma coisa maravilhosa, mas tem gente que espera dois anos para ser atendido e morre. Então é assassino mesmo. Não matou diretamente com um punhal, mas matou num processo que a pessoa nem percebeu. É pesado demais isso, eu fico morrendo de pena disso.

O senhor está otimista com o novo governo, que começa ano que vem?
Eu espero que sim. Eu não sou partido nem candidato, minha função é outra. Nem todo bispo pensa assim não, mas eu sustento que entre uma Igreja e poderes não pode haver ligação. Deve haver, sim, colaboração para o bem de todo o povo.

Então o senhor não gostou do que houve na eleição, quando vários religiosos tentaram influenciar o debate?
Não é função deles, não. Eu até entendo, mas na época de eleição lançar o problema do aborto… Foi uma coisa pouco pensada. Eu sei que foi com a melhor das intenções, mas não era o caso, não era o momento.

Até mesmo a orientação do Papa, que disse que a Igreja deveria dizer para os fiéis não votarem em quem fosse a favor do aborto?
Naquela hora não era para ser dito. Quando houve a Segunda Grande Guerra, houve aquela palavra forte do Papa Pio XI, a encíclica Mit brennender Sorge (que condenava o nazismo). Quando ela chegou à Polônia secretamente, o cardeal Adam Stefan Sapieha mandou queimar a palavra do Papa. Tem que dizer as coisas no momento exato. O cardeal nunca foi contra a palavra do Papa, mas ele viu que não poderia fazer aquilo porque iria haver muitas mortes contra os cristãos na Polônia. Então ele queimou na hora.

Do Terra

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