Filme: Cenas quentes de "Bruna Surfistinha" são pertinentes, diz diretor
Bruna Surfistinha tem muitas cenas de sexo, mas pertinentes, afirma diretor. Diretor diz que sempre pensou em Deborah Secco no papel de Bruna Surfistinha
Cartazes do filme Bruna Surfistinha
Crédito:Carol Almeida
A primeira vez, um diretor nunca esquece. E Marcus Baldini está ansioso por esse momento. Não é pra menos: seu primeiro longa-metragem e a primeira ficção no cinema será exibida em, pelo menos 350 salas do Brasil. Trata-se, portanto, não apenas de seu primeiro filme, mas do primeiro potencial título arrasa-quarteirão. Estamos falando de Bruna Surfistinha, produção adaptada do livro O Doce Veneno de Escorpião, co-escrito pelo jornalista Jorge Tarquini e pela própria Bruna Surfistinha, ou melhor, Raquel Pacheco, a identidade real da moça por trás do mito. A personagem que ganhou fama no Brasil depois de criar um blog contando suas experiências como garota de programa (e dando notas aos seus clientes) chega no próximo dia 25 de fevereiro aos cinemas tendo como atriz principal Deborah Secco no papel título. Confira abaixo a entrevista exclusiva que Baldini deu ao Terra sobre os bastidores dessa que promete ser uma das maiores bilheterias do cinema nacional em 2011.
Escutamos falar do filme da Bruna Surfistinha há mais de três anos. Mas lá atrás, como foi a primeira aproximação com a ideia de criar essa história no cinema?
Esse filme tem isso de que as pessoas ouvem falar dele há muito tempo e isso dá às vezes uma impressão de que ele demorou muito pra sair, o que não é verdade. Desde a ideia inicial até este momento, o filme demorou entre quatro, cinco anos, o que é um tempo perfeitamente normal para uma produção. E esse anseio vem desde o primeiro projeto que a gente aprovou na Ancine, que ainda era um projeto com possibilidade de captar dinheiro. Nesse dia que saiu a lista da Ancine já veio a notícia de que ia sair um filme com a Bruna Surfistinha. As pessoas me ligaram pra dar parabéns e eu dizendo: ‘calma gente’. E aí vieram os testes de elenco e logo mais notícias surgiram. Então essa sensação de que já se escuta falar do filme há muito tempo é porque a cada etapa dele as coisas eram divulgadas. A ideia eu tive quando o livro da Bruna ainda estava no computador, o Jorge Tarquini estava escrevendo com ela a história e nesse momento eu estava procurando algo pra filmar. Quando liguei pro Jorge e perguntei se ele tinha alguma história, ele falou que estava co-escrevendo um livro sobre a Bruna Surfistinha. Eu não sabia quem era a Bruna Surfistinha, nunca tinha lido o blog, não tinha menor ideia do que aquilo queria dizer. Era final de 2005 e pedi pra ele me mandar o livro, que ainda não havia sido publicado e estava no computador mesmo. Quando li, achei que além de ter a coisa da garota de programa e do diário, havia ali uma Cinderela trash, tentando no meio daquele universo completamente deturpado, de autoflagelação e autosofrimento, realizar o sonho que era de muita menina da idade dela. Foi isso que me interessou pra fazer o filme, mais do que qualquer sensação de oportunidade com a personagem. Não tive a visão de que aquele livro ia fazer sucesso. Mais do que aqueles filmes de tramas bem amarradas, me interesso mais por filmes de personagens, como Taxi Driver e Boogie Nights. O que gostei nessa personagem é que ela é amoral, não sente culpa pelo que faz e faz tudo, de uma certa forma, por vontade própria. Por outro lado, existem valores universais nela: a menina que quer ser desejada, quer ser bonita, tentando encontrar seu lugar no mundo, ganhar seu dinheiro, sua autosuficiência, liberdade. Achei que daí dava pra fazer um filme.
Seu primeiro contato com a personagem foi, portanto, ingênuo, você desconhecia a repercussão dela. Mas o fato de o filme ter sido bastante comentado e divulgado pela mídia desde seu primeiro projeto ajudou e ajuda ainda hoje?
Ajuda. Acho que há dois lados que vêm desse meu contato “ingênuo”, como você chamou. Um foi essa sensação liberta da influência e pressão de uma oportunidade. Ou seja, a minha força motriz primordial pra fazer essa história não foi contaminada pelo senso de oportunidade. No outro lado, só consegui fazer o filme do jeito que quis com a linguagem que eu queria, pelo sucesso do livro. Agora tem o lado ruim desse sucesso da personagem também. Por exemplo, a gente não conseguiu nenhuma empresa pra colocar dinheiro no filme porque ninguém queria associar seu nome a um filme sobre uma garota de programa. Fora que existe a pressão, a desconfiança. Teve gente que já achou que esse era um filme pornográfico. Mas, de uma maneira geral, o burburinho ajuda bastante.
Na elaboração do roteiro, houve um contato direto com a Raquel Pacheco?
Da mesma forma como me interessei mais pela personagem do que pela história em si, também achei que era importante ter um contato direto com a Raquel para me alimentar mais de conversas e fazer um filme que fosse além de uma transcrição literal do livro. Então a primeira coisa que fiz foi conversar com ela. Há umas 15 horas de material gravado. Pedi pra ela me contar a história do livro toda de novo. E foi curioso porque esperava que a Raquel fosse uma pessoa desinibida, extrovertida, esperava uma coisa pra fora. Quando ela chegou e começamos a conversar, vi que ela era uma pessoa completamente pra dentro, uma menina com dificuldade de falar algumas coisas, tímida. Não era a Bruna Surfistinha. Isso ratificou ainda mais a visão que eu tinha identificado no livro, que tudo se tratava desse diálogo entre a Raquel e Bruna. A partir dessas conversas, comecei a elaborar os primeiros tratamentos do roteiro e aí o filme foi se desenhado. A Raquel participou desse processo em alguns momentos, e isso nunca aconteceu como uma necessidade de aprovação dela. Ela percebeu e acreditou que eu era a melhor pessoa pra fazer o filme.<P>
Ser um diretor estreante facilitou ou dificultou essa primeira aproximação com ela?
É difícil responder isso. Porque, por exemplo, quando cheguei pra Deborah (Secco), que já havia trabalhado com vários outros diretores, falei com esse meu jeito e ela topou fazer o filme na hora. Com a Raquel, antes mesmo de a gente fechar os direitos do livro, a minha proposta de caminho de filme foi importante pra que ela e o Jorge quisessem fechar o contrato comigo. Eles tinham até propostas de diretores mais famosos, que eu não vou mencionar aqui, mas terminaram acreditando na minha ideia.
Quando você começou a escrever o roteiro, a imagem da Deborah Secco já estava presente em sua cabeça?
Estava. Ela sempre esteve presente no projeto. No início, havia uma dúvida na minha cabeça se eu faria o filme com alguém conhecida ou desconhecida. Mas aí uns quatro ou cinco meses antes das filmagens, já tinha tudo desenhado na minha cabeça e sim, a imagem da personagem era a da Deborah Secco. E foi uma decisão acertadíssima.
O fato de o filme ser protagonizado por uma atriz conhecida nacionalmente não poderia, em algum momento, minimizar a força da personagem em razão da popularidade de sua intérprete?
Poderia. Em algum momento achei que poderia. Mas uma das coisas que foi muito significativa da primeira vez que eu conversei com a Deborah foi justamente o fato de ver que ela, naquele momento, via aquilo como o grande desafio artístico de sua carreira. Isso pra mim foi muito importante. Porque percebi que ela queria se jogar, se atirar no papel e, como ela mesmo disse, se reencontrar como atriz. Resetar um pouco tudo que ela estava trazendo da televisão e se reencontrar com aquela Carol de Confissões de Adolescente, a menina que estava começando a descobrir seu lugar da sensualidade. Comigo, a Deborah como atriz sempre esteve a frente da Deborah celebridade. E o fato de ela ser uma celebridade é ótimo, só temos a ganhar com isso.
O filme parte de uma premissa muito feminina. Você acha que o fato de ser homem te guiou pra algum outro lado da história?
Sempre falei que esse filme era um filme que eu faria para as mulheres. Desde o começo achava que esse olhar do filme e a potencialização dramática da história eram femininas. A garota de programa sofre os mesmos dilemas que a maioria das mulheres sofre: desejo, o se sentir atraente, lidar com preconceitos. Me esforcei muito para que esse olhar acontecesse. Mas talvez o drama seja mais feminino e a diversão seja mais masculina de uma maneira generalizada.
Você sabe que há um filme sendo feito sobre a mulher que foi traída pelo homem que terminou a largando pro Bruna Surfistinha?
Ouvi falar.
Imaginava que esse tipo de desdobramento ia acontecer tão rápido?
Não…aí é que tá. Acho que se existe alguém que tiver uma inquietação artística, que realmente acreditar nessa história da mulher que foi trocada pela Bruna Surfistinha e essa for uma história interessante, feita com honestidade e sinceridade, pode ser um filme bom. Não julgo nada, mas espero que esse filme seja algo sincero e não apenas um produto pra pegar carona em outro.
Como é que o seu filme está se protegendo da pirataria?
Temos cópias controladíssimas que ficam escondidas em um depósito e só saem com seguranças pras cabines. O filme não tem nem DVD ainda. Estamos nos protegendo do jeito que dá.
Quantas cópias do filme chegarão aos cinemas no próximo dia 25 de fevereiro?
Entre 350 e 400 cópias. Estamos com muito procura dos exibidores. O trailer ajudou bastante a vender.
Durante as filmagens, houve algo que o elenco terminou modificando no roteiro?
Não, isso aconteceu mais nos ensaios. À exceção da Drica (Moraes), que sempre termina acrescentando coisas inesperadas e sensacionais. Tem até uma cena do filme que ela joga uma cadeira…O que acontece é que a personagem dela sempre entra pra dar esporro nas meninas. E aí no primeiro take de uma hora que ela está saindo da sala irritada com as meninas, a Drica pega uma cadeira e taca na parede. E todo mundo ficou parado. Ela já tava doente nessa época, mas jogou aquilo com uma força que deixou todos impressionados. Isso não estava no script.
Houve uma preparação específica para as cenas de sexo?
Bem, o filme tem bastante cenas de sexo. Mas todas elas têm uma pertinência narrativa. Existem cuidados que você sempre toma, dá pra diminuir a equipe em algumas cenas. E a Deborah sempre se encontrou muito bem nesses momentos. Ela domina o set, controla tudo. Nossa grande preocupação sempre foi: qual era a importância daquela cena dentro da história e até onde podíamos ir. E é difícil fazer esse tipo de cena.
Você já havia filmado alguma cena de sexo antes desse filme?
Fiz um clipe uma vez pro Tihuana chamado Uma Noite. E foi decidido que o clipe seria sobre uma “trepada”. Era uma cena de sexo inteira. Aí tive um exercício interessante. Depois disso, fiz um curso com a Fátima Toledo de atuação. E no curso havia esse momento do encontrar do nu. Fiz cena de nu e sei o que é está ali despido. Essas duas coisas me ajudaram a fazer as cenas do Bruna Surfistinha. Cenas de sexo são sempre muito coreografadas. Se você soltar, só vê braço, cabeça e cabelo pra todo lado, fica um remelexo de coisas e você não vê nada. Termina então sendo tudo muito técnico.
Esse será teu primeiro longa-metragem no cinema e, depois de cinco anos envolvido nele, você está pronto para a recepção que o público e a crítica terão do filme?
Acho que, como o Roberto (Berliner, produtor) falou, esse é um filme que o Bonequinho (do jornal O Globo) não dorme. Ele pode até levantar, mas dormir ele não dorme. Estabelecer esse diálogo e receber um feedback positivo ou negativo das pessoas faz parte da carreira a que me proponho seguir.
Marcus Baldini, diretor
TERRA com DIARIO DO SERTÃO
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