Casal gay adota adolescente que esperava há seis anos por um lar
Garoto foi encontrado aos 7 anos andando pelas ruas de Gurupi. Casal soube da história e resolveu que era a hora: 'Ele foi feito para nós'.
Após ser abandonado pela família e passar mais de seis anos na fila de adoção, em Gurupi, sul do Tocantins, um adolescente, de 13 anos, finalmente ganhou um novo lar. O garoto foi adotado e terá dois pais. Christian Sebastian, 24 anos, e Natalino Ferreira, 34, são de Maringá (PR). Juntos há mais de dois anos, eles contam que sempre tiveram vontade de adotar, independente da idade. Agora, os três vivem um sonho: “Deus fez ele para nós”, comemora Natalino.
O paranaense conta que se casou com Christian em setembro deste ano. Logo depois, souberam da existência do adolescente, que vivia em um abrigo em Gurupi. O menino foi parar no local aos 7 anos após ser encontrado por policiais perambulando pelas ruas da cidade.
Na época, ele foi entregue ao Conselho Tutelar. O órgão disse que a mãe dele cumpria pena na Cadeia Feminina de Figueirópolis e expunha o filho à situações de risco e maus tratos. Por causa disso, ela perdeu a guarda do adolescente. O garoto, então, foi encaminhado para um abrigo em 2010. Desde então, nenhum membro da família se dispôs a reaver a guarda do menor, segundo a Defensoria Pública do Tocantins.
Durante seis anos, ninguém se interessou em adotar o adolescente. Até que, há 90 dias, o casal soube da história de vida dele através de um grupo nas redes sociais. Quem fez a divulgação foi a servidora do Tribunal de Justiça do Tocantins, Eliandra Souza. Ela soube do que havia acontecido com ele durante um trabalho de conclusão de curso do mestrado sobre adoção tardia.
“Quando eu soube da história dele, averiguei, entrei em contato com a coordenadora do abrigo e passei os meus dados”, relatou Natalino.
Ele conta que tentou a adoção pela Justiça de Maringá, mas sem sucesso. Natalino, então, procurou a Defensoria Pública do Tocantins, que entrou com uma ação de adoção. Em pouco tempo, o casal obteve a guarda provisória, com o estágio de convivência por quatro meses.
“Eu pedi para a coordenadora do abrigo perguntar se ele queria ser adotado por um casal de homens. Ele respondeu: ‘Obrigada Deus, eu pedi uma família’. Isso nos deu força”, disse emocionado.
O adolescente se mudou com os novos pais para Maringá no domingo (4). Agora, os três vivem uma nova realidade. “Sem palavras, tudo está perfeito. Ele está feliz, eu vejo que há um brilho diferente no olhar. Nós ficamos acordados até tarde conversando, sorrindo. Eu perguntei se ele está gostando de ficar com os pais. Ele disse que nunca vai embora e que daqui nunca vai sair”.
Natalino diz que antes de adotar, conversou com a psicóloga que atendia o adolescente. “Ela me disse que ele não sorria há muito tempo. E agora ele está dando gargalhadas com a gente. Estamos muito felizes com isso”.
A coordenadora do abrigo, Licemara Cardoso conta que o adolescente sofria muito por não ter uma família. “Ele sempre via as outras crianças sendo adotadas e se sentia rejeitado”.
Preconceito
Ao adotar, o casal homoafeitvo quebrou um tabu, o da adoção tardia. Apesar da idade, o casal diz que não ficou com medo dos traumas que o adolescente pode ter.
“Acreditamos que o amor supera, educa, ensina, fortalece e seja o que for o que acontecer ele merece essa chance, assim como todos nós. Até então dizíamos: ‘Vamos ficar com ele, ele precisa’. Mas percebemos que hoje fomos nós que ganhamos a chance da nossa vida”, argumenta Natalino.
Natalino conta que chegou a pensar sobre o preconceito que os três podem sofrer, mas que está preparado para enfrentar o que for preciso.
“A gente pensou nisso, mas quando ele disse que não se importava, o resto nós superamos, a gente encara. Com apoio tudo se resolve. Ele demonstra estar do nosso lado. Estamos muito seguros. Sabemos que vamos enfrentar desafios, ele pode sofrer preconceitos, por ser de cor mais morena também, mas isso não vai impedir que sejamos felizes”, concluiu.
A intenção de Natalino e Christian é também sensibilizar casais para a adoção tardia. E eles garantem: o adolescente de Gurupi é só o primeiro dos outros três filhos que eles pretendem ter. “É o que posso. Infelizmente minhas finanças e o tempo não me permitem mais”, brincou Natalino.
Adoção
Segundo o Cadastro Nacional de Adoção da Corregedoria Nacional de Justiça, estão acolhidas mais de 46 mil crianças com idade entre 0 e 17 anos em todo o Brasil em entidades credenciadas.
Destas, 7.264 estão para adoção. As demais, em processo de destituição familiar ou em tentativa de reintegração.
A coordenadora do Núcleo da Diversidade Sexual da Defensoria Pública do Tocantins, a defensora pública Valdete Cordeiro, conta que a adoção por casais homoafetivos segue os mesmos parâmetros da adoção por casais heterossexuais. Segundo ela, o primeiro passo é procurar uma Vara da Infância e Juventude para preencher um formulário. Nele, os pretendentes colocam se aceitam qualquer criança ou quais são as exigências.
“Os candidatos são convocados para um curso de adoção, com psicólogos e assistentes sociais e também passam por entrevistas com o assistente social para conhecer o futuro lar da criança e saber se ele está habilitado para recebê-la”, ressalta. Diante do relatório, o Ministério Público dá o parecer e a juíza da Vara homologa a decisão.
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