Vinte anos da demolição do velho HRC
Por José Antonio
Há vinte anos, escrevi neste canto de página, na edição do dia 31 de janeiro de 2002: “mais um violento crime se comete contra o patrimônio do povo de Cajazeiras e da Paraíba. O prédio onde funcionava o Hospital Regional de Cajazeiras, com mais de mil metros quadrado de área construída, foi posto por terra, demolido, arrasado. A força de um trator D8 em poucas horas de trabalho destruiu o prédio que Cajazeiras levou mais de 70 anos para construir e que nos últimos 12 anos foram investidos milhares e milhares de reais em grandiosas reformas, patrocinadas pelos governos de Wilson Braga, Ronaldo Cunha Lima, Burity e Maranhão I e II.
A construção deste hospital foi realizada pelo Bispo Dom João da Mata, segundo bispo da Diocese de Cajazeiras, homem dominado pela ideia do desenvolvimento e do progresso. Várias obras marcaram o seu trabalho a frente da diocese de Cajazeiras: reconstruiu o Colégio Diocesano Padre Rolim, ampliou o Colégio Nossa Senhora de Lourdes, iniciou a construção da Catedral e concluiu o Palácio Episcopal, além de criar e instalar educandários em toda diocese a exemplo do colégio de Patos, Catolé do Rocha, Itaporanga, Princesa Isabel e Santa Luzia.
Foi com o dinheiro do povo, angariado pelas mãos obreiras de Dom João da Mata, durante os sete anos de seu bispado, que o Hospital foi construído e inaugurado em 1939.
Notícia, no ano de 1939, publicada na imprensa local assim se referiu ao hospital: “o exmo. Sr. Bispo resistiu heroicamente a todas as dificuldades que uma iniciativa de tamanha importância costuma experimentar, sobretudo quando as incompreensões do meio tomam forma de entraves. Mas confiado no céu, e no elevado alcance do empreendimento marchou seguro até ver finalizadas as obras do Hospital. Foi braço forte ali o revmo. Pe. Gervásio Coelho cuja administração segura e enérgica foi uma garantia de êxito.” Vale ressaltar que quando o hospital foi entregue ao Governo do Estado, ficou o Bispo da Diocese com o título de diretor perpetuo do Hospital, posteriormente, por motivos políticos, foi solapado das mãos do mandatário da diocese de Cajazeiras.
Quanta indignação não estaria estampada, se vivos fossem, ao ver demolido, o hospital que foi referencia em toda região sertaneja, os médicos Otacílio Jurema, Deodato Cartaxo e Waldemar Pires, trio que durante 50 anos serviu com abnegação, doação e amor ao HRC. Sem esquecermos os médicos que já passaram e ainda hoje se devotam àquela casa de saúde: Antonio Augusto Araruna, Deusdedit Leitão, Luís Xavier de Andrade, Antonio Vituriano, Iermirton Braga, Sabino Rolim Guimarães, Chico Guimarães, Epitácio Leite Rolim, Sousa Bandeira, Júlio Bandeira, Chico Barbosa e inúmeros outros.
E a capela do hospital? Nem esta mesma respeitaram. A professora Carmelita Gonçalves e outros líderes religiosos da cidade, que ajudaram a construí-la, pedindo um saco de cimento a um e outro, devem estar também indignados. Os patrocinadores desta façanha além de criminosos do patrimônio do povo se constituem em verdadeiros hereges.
Sr. Governador, fizeram tudo na calada da noite. Nem um belo jardim que tinha na frente escapou. Poucos tiveram conhecimento deste fato, se avisassem antes, o povo desta cidade ia se rebelar e jamais permitiria tamanha crueldade e desperdício com o dinheiro do povo.
Mas preferiram ir pelo caminho da destruição, na mesma lógica da guerra. Destruir para reconstruir depois. Procedendo assim as empreiteiras e os “atravessadores” lucram mais. Neste triste episódio ganham os gananciosos, os abutres do dinheiro do povo e os inimigos da honestidade”.
Republico este artigo em função de uma nova mentalidade na preservação do que restou de prédios históricos e que através do Secretario de Cultura, Ubiratã de Assis, vêm sendo restaurados, a exemplo do Hotel Oriente e do Casarão de Epifânio Sobreira.
Viva o Patrimônio Histórico de Cajazeiras.
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