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Adjamilton Pereira

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Velhos e novos hábitos

10/02/2011 às 08h23

Muitos hábitos e costumes vamos adquirindo ao longo da existência e os cultivamos como práticas, lembranças, reminiscências que nos acompanham ao longo de nossas vidas. E nesse compasso nosso cotidiano vai sendo pontilhado por gestos e atitudes que, envolvidos na simplicidade de sua execução, se repetem como ações que nos transmitem bem estar, conforto e, até mesmo, saudades.

Desde a minha mais tenra infância o ato de, nos primeiros dias do ano, afixar o calendário que meu pai chamava de Folhinha do Sagrado Coração, era uma atitude movida pelo ritual de respeito e curiosidade. Respeito pelos dias incertos que se escondiam nas folhinhas retangulares e que, diariamente, eram destacadas pelos meus pais e lidas em suas mensagens evangélicas, suas anedotas, suas curiosidades, os santos do dia, as charadas. Folhinhas que, nos domingos pela manhã, meu pai destacava para acompanhar as leituras bíblicas que ele, mais tarde, faria na Capela de Fátima, no desempenho de suas funções de ministro extraordinário da Eucaristia.

A fixação do calendário era um ritual seguido com alegria. Para dar maior sustentabilidade e longevidade ao papelão do calendário meu pai preparou uma tabua retangular, feita de madeira de canafístula, que não racha e é macia. Numa das extremidades introduziu um gancho para pendurar na parede. Todos os anos, o ritual consistia em retirar os resíduos do calendário do ano que findava e colar o novo calendário, sempre observando a fisionomia do Coração de Jesus impresso na estampa, pois, segundo um primo nosso, Braz, a fisionomia do Cristo no calendário era pressagio de bons ou maus invernos. Meu pai apenas esboçava um raso sorriso ante a crendice.

Outro ritual era o de, nas noites de inverno, ficar ouvindo, amedrontada, os trovões que rasgavam os céus nas primeiras chuvadas. Trovões fortes que tremiam a chave na fechadura da porta principal da casa. As trovoadas eram sinais de que as chuvas estavam voltando aos sertões, apagando a poeira de anos secos e alimentando a esperança de fartura e alimento na mesa para todos. Na manhã a curiosidade em acompanhar nossos pais na escuta do noticiário de rádio em Cajazeiras, para se inteirar do volume das chuvas, que já tinham sido previamente aquilatadas pela intensidade da cheia do riacho de Impueiras ou pela sangria do pequeno açude situado ao lado da casa.

São lembranças que, ainda hoje, se repetem em gestos cotidianos que reproduzem atitudes como o simples gesto de destacar a folhinha do calendário e vê, em suas letras miúdas anedotas, mensagens de fé, receitas culinárias. Ou mesmo quando o ronco do trovão agita nosso íntimo e sacode nossas reminiscências a determinar que o tempo passa mas preserva velhos costumes que forjam nossa existência e mantêm o vínculo essencial como nossa história.
 


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Adjamilton Pereira

Adjamilton Pereira

Adjamilton Pereira é Jornalista e Advogado, natural de Cajazeiras, com passagens pelos Jornais O Norte e Correio da Paraíba, também com atuação marcante no rádio, onde por mais de cinco anos, apresentou o Programa Boca Quente, da Difusora Rádio Cajazeiras, além de ter exercido a função de Secretário de Comunicação da Prefeitura de Cajazeiras.

Contato: [email protected]

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Adjamilton Pereira é Jornalista e Advogado, natural de Cajazeiras, com passagens pelos Jornais O Norte e Correio da Paraíba, também com atuação marcante no rádio, onde por mais de cinco anos, apresentou o Programa Boca Quente, da Difusora Rádio Cajazeiras, além de ter exercido a função de Secretário de Comunicação da Prefeitura de Cajazeiras.

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