Um palhaço entre os palhaços
A cada dois anos, a televisão brasileira fica mais divertida. Humoristas, cantores, artistas, prostitutas, pastores, ateus, gente séria e gente não tão séria assim invade o horário eleitoral gratuito para apresentar suas miraculosas e lunáticas propostas de governo.
Não sei se devo dizer que, este ano, a coisa ficou mais séria. Minha dúvida reside na comparação com o fato de que há algumas décadas candidataram um bode no Rio de Janeiro. E, pior: o bode foi eleito. Só não me perguntem como.
Mas, a seriedade deste ano está em que o senhor Francisco Everardo Oliveira Silva resolveu candidatar-se a deputado federal. E, pior (repetindo a história do bode do Rio de Janeiro), ele não apenas vai ser eleito, como também vai ser eleito o deputado mais bem votado no país. Na história, perderá apenas para o finado Enéias Carneiro.
Com bordões do tipo “pior do que tá não fica” e “você sabe o que faz um deputado federal? Não? Nem eu”, nosso querido Tiririca vai mostrando para o povo brasileiro a sua verdadeira face: somos, na verdade, uma nação de palhaços, que votam em palhaços, sejam eles Tiririca ou não. No fundo, nos identificamos com o Tiririca, pois os palhaços oficiais nos tratam como outros Tiriricas. Tiririca apenas exterioriza a sociedade que nós somos.
Galgando a margem dos 900 mil votos de protesto (quase um milhão), o autor de “Florentina de Jesus” vai ocupando o seu espaço. O que será da Câmara dos Deputados? Claro que não deixará de ser um circo. Afinal, o Congresso não pode perder a graça. O problema é que os palhaços que lá estão, são eleitos pelos palhaços que cá estão (nós).
Seria uma grandiosíssima surpresa (e tristeza) se o senhor Francisco Everardo deixasse de lado a fantasia circense e colocasse o terno e a gravata. E falando de roupas, não me refiro às do corpo. Falo das roupas da decência e da moralidade, notadamente em extinção lá pelas bandas do Planalto. Acho que falta no Tiririca astúcia política ou cidadã, mas lhe sobra coerência. Ele não tirou a fantasia de palhaço. Os outros tiraram.
Já pensou se, por absurdo, o Tiririca na tribuna da Câmara, em inflamado e sério discurso ensinasse como se faz política? O Brasil viria abaixo. Seria demais. Mas seria.
Uma coisa é certa: ele sabe usar bem o horário à sua disposição. Ele não mente. Apenas fala bobagens. E, de um “advinha quem sou eu (escondendo o inconfundível rosto)”, para um “vou ajudar todo mundo, começando pela minha família”, Tiririca dá lições até mesmo às raposas políticas.
Se for assim, eu terei de me curvar perante a autoridade legitimamente constituída: o deputado Tiririca, o palhaço que faz política séria.
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