Um giro no litoral e na história
Por Francisco Frassales Cartaxo – No carnaval resolvemos fugir do Recife, começando por visitar Tantino, em João Pessoa, onde o encontrei mais bem-disposto, menos travesso, aceitando sem resmungos os limites impostos a seus 90 anos. Mudou certos hábitos, agora, tem cuidador/cuidadora para ajudá-lo na mobilidade, a tomar remédios na hora certa! Assim, encara como rotina da velhice, com reflexo imediato na cognição, tanto que voltou a fazer versos, o que impulsiona o prazer de viver tanto!
Embalados nessa alegria, seguimos para Pipa, onde estivéramos há muitos anos. Irreconhecível. Hoje em suas ladeiras e ruelas só existe lugar para pousadas, restaurantes, bares, lojinhas artesanais e de bugigangas. Nada diferente de outros polos espalhados no litoral nordestino.
A Pousada Sol e Luna, mais parecia um pomar, cheia de cajueiros, mangueiras, goiabeiras, pés de cajá, cajarana, fruta-pão, mangaba, coco. Minha ascendência indígena se inflou ao canto da rolinha fogo-pagou, caldo-de-feijão, bem-te-vi e uma variedade de outras aves. Foram os momentos de repouso para suportar o agito de passeios de bug pela orla e de lancha na imensa Lagoa de Guaraíras. E haja camarão e peixe fresco!
Um dia inteiro foi dedicado à genealogia e à história.
Célia Galvão e a prima Marta, que mora em Aracaju, queriam conhecer melhor suas origens, já vinham trocando mensagens com o primo Rochael Galvão. Ex-vereador, secretário da prefeitura de Tibau do Sul, a esposa Lalinha, vereadora. Professor de história, vidrado em genealogia, já acumulou dados desde a sesmaria do primeiro Galvão, de quem ele, Rochinha, é a décima primeira geração! Logo o associei a Moreira Lustosa e seu livro gigantesco, Uma família sertaneja, de 2.133 páginas, em cinco volumes! Até já o alertei para a presença, entre os mártires católicos, de um Mateus Moreira, que teve o coração arrancado pelas costas.
Rochinha nos levou até o engenho Cunhaú, em Canguaretama, onde se deu, em 16 em julho de 1645, o primeiro massacre de católicos, no interior da capela, sob o comando do oficial alemão, calvinista, a serviço da holandesa Companhia das Índias Ocidentais. Em 3 de outubro do mesmo ano, outro morticínio ocorreu à margem do rio Uruaçu, no lugarejo Potengi, hoje município de São Gonçalo do Amarante.
Foram dezenas de mortes, em nome do calvinismo e da colonização holandesa! Apenas há pouco, já neste século, a Igreja Católica beatificou (2000) e reconheceu como santos (2017) 30 mártires, cuja identidade foi identificada.
Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras.
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
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