Um Dia em Sua Vida-One Day In Your Life
Por Carlos Gildemar Pontes
Essa é a tradução da música mais bonita que já ouvi, “One day in your life”, do Michael Jackson. E parece que quando a ouvi pela primeira vez, ela tinha sido feita para mim. Para mim, que na adolescência gostava de Chico Buarque, Milton Nascimento, Tom Jobim, Michael Jackson, Elton John, Pink Floyd, Charles Aznavour, Edith Piaf… Enquanto Chico Buarque, Camus e Sartre faziam a minha cabeça, Michael Jackson, Quintana, Vinicius e Cecília Meireles amansavam meu coração.
Muitas vezes deixei minha adolescência rebelar-se contra o sistema e contra o mundo ilógico dos adultos. Eu era um poeta que escrevia os amores nas alegrias e dores transmitidas pelas canções dos que citei acima. E ficava em casa, ouvindo repetidamente “Music and me”, do Michael Jackson; “Sweet peinted lady”, do Elton John; “F Comme Femme”, do Salvatore Adamo; “Matita Perê”, do Tom Jobim; “Motivo”, da Cecília Meireles, cantada pelo Fagner; dentre tantas! Dançava também nas festas de Discoteca, ao som do “soul music”, e viajava muito na literatura.
Minha mãe comprava nossas roupas na calçada da Caixa Econômica, da Praça do Ferreira (antiga versão do Beco da Poeira) e eu ia feliz para as festas, inaugurar meus panos novos. Aos domingos, a gente ia para o Clube Internacional, no Monte Castelo, e eu esperava “One day in your life” para chamar a Dayse para dançar. Era tão bom.
Hoje, triste pela morte de um dos meus artistas prediletos, lembrei de tudo isso e creio que o mundo perdeu um pouco de paixão, e tocou fundo nas lembranças idas de muitos de nós. Michael Jackson foi meu contemporâneo no sonho, foi meu coetâneo na paixão pela música e na alegria de dançar, sim eu ainda gosto muito de dançar.
Ele era menino ainda quando começou a cantar e encantar o menino que fui. Ele era negro e ficou branco, mas a arte não tem cor nem se importa de que lado ela fica. A arte, a grande arte, é de todas as cores, todas as raças, credos, lugares.
Michael Jackson fez morada na Terra do Nunca, onde na ficção Peter Pan reinava. E muitos dizem que Michael era um Peter Pan vivo, quando abria suas asas e flutuava no palco. Seus pés deslizavam sobre os fantasmas de Fred Astaire e Gene Kelly. Agora estão juntos a sapatear por aí. Mas ele tinha defeitos: um pai severo, uma melanina que migrou para dentro, um nariz de brinquedo, um queixo redesenhado, que importa! Quem se lembrará disso na hora de ouvir “One day in your life”?
Toda a comoção que bilhões de pessoas no mundo estão passando tem um significado. Um ídolo precisa ser universal e incomodar de uma forma ou de outra, sendo bom ou mal falado, sendo bem quisto ou mau dito. E a inversão é proposital e proporcional às notícias que correm sobre a morte do rei do pop.
Por fim, fico com a imagem do artista superior. Tímido na vida e encarnado no palco. A voz suave a deliciar os sentidos e a coreografia marcada por gestos suaves e bruscos que enfeitiçou multidões de fãs pelo mundo. Sem medo de rótulos, sou da geração que consagrará a Michael Jackson um lugar especial no mundo da arte e, mais ainda, uma gratidão por ter embalado minhas noites de uma adolescência apaixonada pela vida, no instante em que surgiam as primeiras manifestações de amor pelas meninas que passavam na calçada, me fazendo sonhar com o sempre, como se o sempre fosse “One day in your life”.
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