Tons empalidecidos
A paisagem passando pela janela do carro revela tons de um amarelo empalidecido típicos do final de maio quando as folhas começam a se despedir dos galhos anunciando a chegada da estação seca preparando a caatinga que se veste de cinza e abandona ramos e folhagens para assegurar a dura travessia das estiagens longa e calcinantes.
Impressões que nos chegam com a beleza de um entardecer quando as sombras projetam longas imagens sobre morros e colinas entrecortados de tufos e aglomerados de moitas que escaparam da destruição humana. Em algumas pastagens vacas sobreviventes da dura estiagem caminham indolentes ao encontro de bezerros e pouso noturno em currais e estábulos. Pássaros desenham em um céu púrpura de fim de tarde traços imaginários de vôos acrobáticos na direção dos ninhos e filhotes. Em muitos terreiros gritos infantis ensaiam brincadeiras e um homem montando um lerdo jumento passa ligeiro como se andasse de costas ao tempo presente de motocicletas e velocidade. Desaparece em uma sinuosidade do terreno como a esconder-se da realidade que lhe parece extemporânea.
O mesmo sol amarelado do fim de tarde de maio também rasga as janelas da Capela de Fátima em dia de Coroação e empresta um clima místico e celestial ao templo povoado por murmurinho de vozes e preces rezadas na antecipação da celebração litúrgica, arremessando fachos de luz que dão um tom de envelhecimento e saudade. Ausente apenas as badaladas de seu sino que, magistralmente manipulado por papai, em tantos domingos, anunciavam e convocavam os fieis para os cultos e rituais religiosos. Não sei por que as igrejas estão abandonando o hábito de tocar os sinos que, em minha infância, era também motivo de fanfarrice infantil ao vermos Tia Naninha saltando na cadeira a cada toque do metal. Éramos uma só gargalhada entrecortada pelos beliscões de mamãe.
De repente, em uma curva da estrada, um homem caminha na direção de algum lugar talvez inexistente, buscando o pouso merecido pelo dia na dura lida. Na cabeça um surrado chapéu de palha impregnado pelo suor do dia quente de trabalho. No ombro, enxada e foice revelam flagrantes da atividade cotidiana. Caminha lento, mas decidido, enquanto desaparece em uma curva do caminho.
Com certeza, não mais o verei, mas sua aparição me evocou a imagem paterna retornando do roçado nos finais de tarde, com seu típico chapéu de palha e seu patuá que abrigava martelo, pé de bode, grampos e outros apetrechos necessários ao trabalho na roça, e inventou um sentimento que se agrega a nossa própria existência: o de que momentos prazerosos de nossa vida não mais se repetirão e vão, cada vez mais, se dissipando nas brumas do passado, formando difusas figuras que teimam em nos contaminar de tristezas e saudades.
A paisagem passando pela janela do carro revela tons de um amarelo empalidecido típicos do final de maio quando as folhas começam a se despedir dos galhos anunciando a chegada da estação seca preparando a caatinga que se veste de cinza e abandona ramos e folhagens para assegurar a dura travessia das estiagens longa e calcinantes.
Impressões que nos chegam com a beleza de um entardecer quando as sombras projetam longas imagens sobre morros e colinas entrecortados de tufos e aglomerados de moitas que escaparam da destruição humana. Em algumas pastagens vacas sobreviventes da dura estiagem caminham indolentes ao encontro de bezerros e pouso noturno em currais e estábulos. Pássaros desenham em um céu púrpura de fim de tarde traços imaginários de vôos acrobáticos na direção dos ninhos e filhotes. Em muitos terreiros gritos infantis ensaiam brincadeiras e um homem montando um lerdo jumento passa ligeiro como se andasse de costas ao tempo presente de motocicletas e velocidade. Desaparece em uma sinuosidade do terreno como a esconder-se da realidade que lhe parece extemporânea.
O mesmo sol amarelado do fim de tarde de maio também rasga as janelas da Capela de Fátima em dia de Coroação e empresta um clima místico e celestial ao templo povoado por murmurinho de vozes e preces rezadas na antecipação da celebração litúrgica, arremessando fachos de luz que dão um tom de envelhecimento e saudade. Ausente apenas as badaladas de seu sino que, magistralmente manipulado por papai, em tantos domingos, anunciavam e convocavam os fieis para os cultos e rituais religiosos. Não sei por que as igrejas estão abandonando o hábito de tocar os sinos que, em minha infância, era também motivo de fanfarrice infantil ao vermos Tia Naninha saltando na cadeira a cada toque do metal. Éramos uma só gargalhada entrecortada pelos beliscões de mamãe.
De repente, em uma curva da estrada, um homem caminha na direção de algum lugar talvez inexistente, buscando o pouso merecido pelo dia na dura lida. Na cabeça um surrado chapéu de palha impregnado pelo suor do dia quente de trabalho. No ombro, enxada e foice revelam flagrantes da atividade cotidiana. Caminha lento, mas decidido, enquanto desaparece em uma curva do caminho.
Com certeza, não mais o verei, mas sua aparição me evocou a imagem paterna retornando do roçado nos finais de tarde, com seu típico chapéu de palha e seu patuá que abrigava martelo, pé de bode, grampos e outros apetrechos necessários ao trabalho na roça, e inventou um sentimento que se agrega a nossa própria existência: o de que momentos prazerosos de nossa vida não mais se repetirão e vão, cada vez mais, se dissipando nas brumas do passado, formando difusas figuras que teimam em nos contaminar de tristezas e saudades.
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
Leia mais notícias no www.diariodosertao.com.br/colunistas, siga nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram e veja nossos vídeos no Play Diário. Envie informações à Redação pelo WhatsApp (83) 99157-2802.
Deixe seu comentário