Simpatias juninas
O mês de junho, com suas fogueiras e devoções aos santos juninos (Antonio João e Pedro), traz na tradição popular a vivência das simpatias e arranjos que são produzidos com as mais variadas intencionalidades e motivações. Desde formas de amealhar fortuna até os caminhos mais rápidos e menos emblemáticos para se conseguir marido, – este último bastante percorrido pelas moças “vitalinas” -, são múltiplas e estrambóticas as peripécias de se buscar na inspiração sobrenatural explicações e soluções para problemas e situações que o cotidiano produz e para os quais não se tem respostas convincentes e aceitáveis.
Aproveitando a inspiração das simpatias juninas também tenho umas receitas de simpatias que, contrariamente ao que prescreve a tradição, não buscam fortunas ou casamentos ansiados. As minhas simpatias servem somente como estratégias do bem viver. Nesse sentido, na noite de São João não solte apenas fogos, rojões e balões, mas esbanje solidariedade, ilumine seu céu com a magia da gentileza. Troque sinceras saudações de amizade e fraternidade com seus vizinhos. Além de dividir com eles um pedaço de bolo de milho e um gole de cerveja, partilhe alegrias e, com certeza, no dia seguinte você se sentirá mais humano.
Não apenas enfie a faca na bananeira, esperando que a nódoa revele o nome de seu futuro consorte. Mas, neste e em tantos outros dias de sua vida plante uma árvore. Além de combater o aquecimento do planeta estaremos construindo abrigos para aves e homens. Quantas pessoas em nossas ruas precariamente arborizadas não se abrigarão as sombras de nims, oiticicas, ipês. Com certeza, essa simpatia trará mais verde as nossas paisagens cinzentas, mais vitalidade as nossas inanimadas ruas e mais movimento ao nosso cotidiano de pressa e individualidade. Nas sombras das árvores, muitas pessoas desconhecidas podem se reunir, velhos jogarão sueca e crianças sonharão futuros.
Não apenas veja seu rosto na bacia. Mas assuma uma postura positiva, propositiva e imperativa para preservar a água do planeta. Não desperdice água no banho, na lavagem de calçadas e nos simples ato da higiene bucal.
Não apenas escreva nomes e letras de prováveis amantes em pedaços de papel, mas reflita sobre quantas pessoas, culturalmente, não podem sonhar com a letra do nome de um possível amado pois são analfabetas e, politicamente, envergonhadas pela “culpabilização” que lhe é imposta como conseqüência de seu fracasso. Reflita também em quantas árvores foram sacrificadas para a produção do pedaço de papel onde você espera surgir o nome tão almejado.
São apenas simpatias foras de contextos, mas inseridas numa perspectiva de possibilidades de vida. Executadas não inviabilizam a tradição, mas fará de nós menos indivíduos e mais sociedade, menos agressores e agressivos e mais afetuosos e gentis.
E viva São João!
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