Silvinho do PT
O uso de recursos públicos para fins escusos pelo PSDB de Minas Gerais serviu de modelo ao mensalão do PT. Até o mentor do esquema e seu principal operador é o mesmo: Marcos Valério, já condenado também em Minas. O Supremo Tribunal Federal pode julgar este ano o ex-governador mineiro, Eduardo Azevedo, único réu com foro privilegiado. Mas ele renunciou ao mandato de deputado federal e talvez seu processo volte à instância local. A tramitação do processo na mais alta corte da Justiça não promete muitas novidades.
De minha parte, fico curioso para saber se o mensalão mineiro teria um Silvinho. Hoje quase ninguém se lembra de Sílvio Pereira, militante petista, rapaz de classe média, dedicado à causa partidária como poucos, tanto que ascendeu à secretaria geral do PT nacional. Isso não é pouca coisa. O cargo lhe permitia circular na intimidade do partido e do poder. No primeiro governo Lula, ele centralizava os pedidos de indicações a cargos públicos, inclusive os dos partidos da coalizão governista. Com isso, enfeixava nas mãos um poder enorme em articulação direta e permanente com o ministro José Dirceu e o tesoureiro Delúbio Soares. Mais tarde, o trio foi enquadrado pela Procuradoria Geral da República como formadores de quadrilha. Aliás, o único crime atribuído a Sílvio Pereira.
Modesto, Silvinho tinha como objeto máximo de consumo comprar um veículo Land Rover. Terminou por receber um de presente, dado por empresário amigo. Realizou seu sonho! Nem era zero km, (custara 73 mil reais), mas isso pouco importava ao fiel militante petista. Quando Silvinho circulou com seu novo carro foi um Deus nos acuda. Que azar, coincidiu com a denúncia do esquema de corrupção, feita pelo tonitruante deputado Roberto Jefferson. De repente, aquele rapaz pobre, executor de tarefas no governo Lula, viu-se no meio de uma tempestade. Tempestade política tão intensa que levou o presidente Lula a desculpar-se perante a nação. Publicamente. O leitor está lembrado deste fato?
O sonho virou agrura… Pressionado, Silvinho requer desfiliação do PT. Em carta de julho de 2005 ele explica: “Cometi um erro. Não me esconderei no manto da hipocrisia. Nada ofereci ou me foi pedido em troca, minha consciência está tranquila. Tenho clareza, no entanto, que falhei com minhas obrigações partidárias ao aceitar tal situação.” (Receber o Land Rover). Mais tarde, em 2009, já no curso das investigações do mensalão petista, Silvinho sela com PGR um acordo, chancelado pela Justiça, de “delação premiada”. Em troca da exclusão do seu nome da denúncia, abre o jogo: revela os segredos do esquema de corrupção. Quem faz o que. E como faz. Pegou leve, prestar serviços comunitários. Em contrapartida, permitiu aos investigadores e aos ministros do STF formarem sólida convicção acerca do papel dos personagens do processo e da maneira como praticaram atos criminosos nocivos à democracia.
Roberto Jefferson sacudiu pedras, Silvinho povoou os caminhos. Ele tornou-se assim protagonista na fase da instrução criminal. Hoje ninguém fala nele, mas sua marca ficou, porque deu aos juízes certezas difíceis de serem firmadas na frieza de documentos e de depoimentos estudados, orientados por advogados. Quando o mensalão virá história, Silvinho do PT talvez escreva suas memórias. Por enquanto, ele cuida de lanchonete da família em Osasco.
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