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Radomécio Leite

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Seca e lágrimas na terra da promissão

23/09/2012 às 17h33

Um dia, um Faraó egípcio teve um sonho profético no qual sete vacas magras comiam sete vacas gordas e mesmo assim continuavam magras. Para explicar seu sonho, ele convocou todos os sacerdotes do Egito para decifrá-lo. Nenhum desses conseguiu, então o copeiro-chefe se lembrou de José, que tinha decifrado seu sonho e indicou-o ao Faraó. O Faraó chama José e este consegue dar uma interpretação que o satisfaz: “o Egito passaria por sete anos de fartura e sete anos de seca, consecutivos”.

O faraó gostou da interpretação e nomeou-o “chanceler”. José, então, ordena que se construam celeiros para guardar a produção do Egito durante os anos de fartura.

A figura de José inspirou vários autores e artistas ao longo da história, devido à riqueza narrativa do relato que é, sem dúvida, uma das mais populares gestas bíblicas.

José do Egito tem uma história muito interessante e sem levar em conta aqui todo um lado teológico, mas sim pedagógico, que lições podemos aprender com ele e sua caminhada?

Nos dias atuais, não somente no município de Cajazeiras, mas em toda região do semiárido nordestino, estamos vivendo uma grande seca que se manifesta na redução da produção agropecuária, na falta de pasto e água para os animais e para o consumo humano e provoca uma crise social/econômica e se transforma em um problema político.

E sendo um problema político, quais as medidas que os nossos “faraós” vêm tomando? O que tenho presenciado desde os meus tempos de menino, as ações ainda não foram suficientes e definitivas para solucionar este problema, José do Egito, há séculos atrás já tinha indicado como resolver.

Ressalte-se que não presenciamos mais os famosos saques, nem as passeatas de protesto comandadas por Bosco Barreto, nem as “frentes de serviços”, nem os “barracões” para fornecer alimentos aos “cassacos”, que enriqueceram muitos políticos/coronéis nas secas de 58 e 70.

Nos dias atuais, os “coronéis” enriquecem de outra forma, através de algumas medidas que o governo federal vem tomando, a exemplo, com os R$ 164 milhões que serão aplicados na Operação Carro Pipa ou via Ministério da Integração Nacional, por meio do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), que vai disponibilizar R$ 1 bilhão para apoio a produtores rurais, comerciantes e setores da indústria prejudicados pela estiagem no Nordeste e ainda, dentre outras medidas, para atender aos agricultores familiares que tiveram prejuízos com a estiagem, com o Programa Garantia Safra que vai disponibilizar R$ 500 milhões e o benefício é de R$ 680,00, em cinco parcelas. Outros R$ 200 milhões serão disponibilizados por meio do Bolsa Estiagem, que disponibiliza R$ 400,00, dividido em cinco vezes.

No setor de obras, O governo federal vai investir R$ 17,1 bilhões em ações estruturantes até 2015, que vão garantir a segurança hídrica para brasileiros que vivem no semiárido, como o secular Projeto de Integração do Rio São Francisco, que caminha igual a uma tartaruga.

Um pequeno criador, em nosso município, diante da situação gravíssima: sem água e sem pasto para o seu diminuto rebanho e sem ter comprador, ofertou, com lágrimas nos olhos, a outros criadores as suas vaquinhas, de meia, para não vê-las morrer, mas mesmo assim não conseguiu realizar o negócio. O milho que o governo prometeu vender de dezoito reais a saca ainda não deu o ar da graça por nossas bandas e a ração do governo estadual não atende 5% dos seis mil proprietários de Cajazeiras.

O mais grave ainda é que se comenta que no próximo ano vai ser seco de novo, aí de verde só vão sobreviver pano de bilhar e óculos Ray-ban.
 

Radomécio Leite

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Contato: [email protected]

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