Resgatando saudades
“Chora!
A nossa Pátria
Mãe gentil
Choram Marias e
Clarices
No solo do Brasil”
No período das festas juninas, o cajazeirense que reside em outras longínquas terras, sente mais do que em outra época, o desejo de voltar ao seu torrão natal para comer milho assado, pamonha, canjica e dançar ao som da sanfona, do zabumba e do triângulo e se embriagar com goles de cachaça, afogar as mágoas e matar as saudades, iluminado pela fogueira de São João e o pipoco das bombas, mas não posso imaginar um cajazeirense, que “exilado” de sua “pátria” e
que tenha bebido água do açude grande,
que tenha dançado um forró de pé de serra no Xamegão,
que tenha assado milho nas brasas da fogueira de São João,
que tenha freqüentado a praça João Pessoa nas suas noites de domingo depois da missa das sete,
que tenha (se for do sexo masculino) freqüentado a casa das meninas por trás do cemitério, escondido das beatas de padre Manoel Gomes,
que tenha ouvido o som do apito do trem na chegada e na partida na velha estação, soltando fumaça pelas ventas,
que tenha ouvido os discursos de Otacílio Jurema e Tota Assis na Rua Padre José Tomas,
que tenha freqüentado as tertúlias do clube 1º de maio, ao som do conjunto de Chico Bem Bem
que tenha assistido filme nos cinemas de Eutrópio, de Carlos Paulino e do Bispo,
que tenha ouvido o estampido da bomba no Cine Apolo Onze e abalou a cidade e era para matar o bispo Zacarias,
que tenha corrido para casa depois do motor da luz dar o primeiro sinal que a cidade ia ficar no escuro depois das dez da noite,
que tenha bebido cachaça, no bar de Joaquim do Tetéu, acompanhado do governador João Agripino nos encerramentos das semanas universitárias,
que tenha assistido aos júris populares no fórum e escutar os debates entre o promotor Firmino Gaioso e o advogado Zé Rolim Guimarães,
que tenha assistido às reuniões da câmara presididas por Dr. João Izidro Pereira,
que tenha comprado rapadura e farinha de mandioca na feira dos sábados,
que tenha ficado debaixo de um poste ouvindo na difusora de Mozart Assis os discursos de Júlio Bandeira,
que tenha engraxado os sapatos, com Zé de Sousa, com sua cadeira instalada na porta do mercado,
que tenha chupado abacaxi nas noites de natal na praça Coração de Jesus,
que tenha comprado parafuso na Casa Ipiranga de Álvaro Marques,
que tenha participado das procissões de Nossa Senhora de Fátima, todos os meses no dia 13,
que tenha dançado ao som da Orquestra Manaira nos salões do Tênis Clube,
que tenha andado de bicicleta no paredão do açude comprada na loja de Zé Epaminondas,
que tenha assistido missa celebrada pelo bispo Zacarias e Monsenhor Abdon,
que tenha assistido aos desfiles do Colégio Diocesano sob a batuta de Monsenhor Vicente,
que tenha visto João Rodrigues dar cavalo de pau, na praça do espinho montado num jipe de quatro portas, num domingo de carnaval,
que tenha ouvido as crônicas de Antonio de Sousa nas rádios da cidade,
que tenha assistido aos desfiles do Tiro de Guerra na rua Juvêncio Carneiro,
que tenha assistido no Higino Pires a uma partida de futebol entre Sousa e Cajazeiras e apitada por Pedro Revoltoso, narrada por Zeilton Trajano e comentada por Doca Gadelha nos microfones da Alto Piranhas e que para variar sempre acabava com uma briga,
que tenha ido ao aeroporto Antonio Tomaz para ver os aviões da Varig pousar e decolarem todos os dias,
que tenha visto o nosso gênio Inácio Assis realizando demonstração pública de explosão de bombas à distância, na década de 40,
que tenha namorado numa só noite de quermesse todas as meninas bonitas da cidade,
que tenha guardado na memória e no coração tantas e belas lembranças desta cidade, que venha rever sua amada Cajazeiras, agora neste período junino, porque tenho certeza jamais você a esqueceu.
Você que migrou venha rever sua cidade, venha resgatar suas lembranças, reabastecer suas memórias, matar suas saudades, abraçar os seus amigos, andar pelas ruas estreitas, sentir o calor da fogueira, caminhar no calçadão da Tenente Sabino, sentir o perfume das belas mulheres cajazeirenses, chupar picolé de cajá, ver o por do sol da parede do açude grande e principalmente poder dizer a Cajazeiras: oh terra querida, como eu te amo!
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