Redes virtuais e eleição
Como sempre o carnaval deixou ressaca, um rastro de cansaço, alegria, recordações revividas em fotos, postadas quase ao vivo nas redes virtuais. Compartilhadas com os amigos. Ou simplesmente curtidas. Do carnaval restaram também amargas lembranças de acidentes, brigas e mortes. Ficaram suspiros de amores voláteis. Outros nem tão, é bem verdade. Nada que não se tenha visto e vivido em carnavais passados. Este ano, alguns candidatos ensaiaram passos de popularidade, sem graça, a mídia a mesclar folia e campanha eleitoral. Já, já a gente esquece.
De agora em diante a Copa do Mundo de Futebol ocupará enormes espaços, de fazer inveja ao Galo da Madrugada, gigantesca galinha a agasalhar gente e ações nada republicanas. Com isso, a mídia ativa os sentidos da população, aguça suas agruras diárias pela falta de transporte de qualidade, de saúde, segurança, educação. Um convite às ruas, mais que à própria torcida, para o protesto. A campanha eleitoral será mais curta. 2014 chega com uma novidade capaz de mexer com os parâmetros até agora adotados em estudos eleitorais, a começar pelas pesquisas de intenções de votos. Aliás, as redes sociais na internet já estão inundadas de mensagens de postulantes a cargos eletivos. Esta, sim, é grande novidade desta eleição.
E esta novidade está no tamanho das redes, na sua abrangência, na capacidade de disseminar informação com celeridade, no seu uso generalizado, ao ponto de sedimentar o hábito em boa parte da população. Não só entre os jovens. Não pense o leitor que a onda virtual esbarra nas faixas etárias até os 30 anos, os “nativos digitais”. Vai além. A onda avança e atinge os velhos também. Pesquisa divulgada mês passado indica que as pessoas com mais de 50 anos, por exemplo, estão aderindo em massa ao Facebook, a rede social da moda. A adesão às redes pelos mais velhos tem crescido, hoje, muito mais rápido do que entre os jovens. Os filhos e netos continuam maioria nas redes, é notório, mas eles perdem terreno para pais e avôs. Estes cada vez mais ávidos de curtirem mecanismos modernos de comunicação. Esse fato produzirá efeitos na inclinação do eleitor. É provável que as redes virtuais entrem com força na disputa pela primazia dos instrumentos de informação na hora de definir e consolidar o voto. Sua capacidade de multiplicar rapidamente fatos e boatos pode alterar os esquemas tradicionais das disputas eleitorais no Brasil, anulando vantagens aparentes baseadas em formas tradicionais de exposição de candidatos. O guia eleitoral gratuito é um deles. Ainda é cedo para afirmar isto, mas há sinais no ar, ou melhor, no mundo da internet.
Não quero com estas observações trocar conteúdo por forma. A força deve persistir com a natureza das propostas, a trajetória dos postulantes, a importância do apoio político etc. Mas é inegável que a haverá do lado da recepção pelo eleitor maior rigor avaliativo, muito mais do que em eleições anteriores. Mensagem balofa, vazia de conteúdo tende morrer no senso crítico dos internautas, na troca de impressões entre eles, a despeito das asneiras que circulam em abundância nas redes virtuais. 2014 será um teste interessante para aferir o peso das redes virtuais nas eleições. E a capacidade dos partidos em interagir com o eleitor em rede.
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