Queda na velhice
Por Francisco Frassales Cartaxo – Esta semana o presidente Lula nos deu um susto ao ser levado às pressas a um hospital paulistano, submetendo-se a procedimento de urgência. Tudo por causa de uma queda no banheiro! Queda é o terror dos velhos. Cada um de nós conhece muitos casos, até por experiência própria. Simples mortais, poucos temos a sorte de Lula, de ser atendido a tempo e a hora, com direito a monitoramento de médica na viagem.
Vamos a casos de mortais comuns.
Na Praça de Casa Forte, grupo de idosos faz caminhada vesperal. A média do bloco varia de três a seis, jamais alcança uma dúzia, incluídos os eventuais caminhantes. O menos velho se integrou ao grupo em dia de queda. Ele caminhava sozinho, mal se ouvia um “boa tarde”, até que uma raizinha à mostra o pôs no chão. Por coincidência, vínhamos em sentido contrário e o socorremos, corpo e óculos na terra, manchas de sangue. Sumiu alguns dias, mas quando refeito, aí sim, ampliou o grupo. A queda findou por lhe ser útil!
Outro velhinho, egresso do Cariri, formado na Poli de Campina Grande, há muito tempo caminhava ao nascer do dia, igual a mim. No começo do ano foi atropelado em frente a seu prédio: duas rótulas fraturadas, enxertado de metais, sete meses de hospital e paciente recuperação em casa. Está voltando à caminhada, aos poucos, agora no fim da tarde, vigiado por uma diligente cuidadora. Mês passado, Deus do céu, um montinho de barro o levou a nadar no seco. Eu estava a seu lado e, com a ajuda de almas caridosas, o levamos ao banco mais próximo. Lá se foram três pontos na mão, escoriações, seguindo-se um mês de “prisão caseira”. Agora está menos afoito…
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Zé Luiz teve mais sorte em sua terceira queda na rua. Ele também experimentou nadar no seco, impulsionado por uma raiz exposta. Sortudo! Bem pertinho, sentado num banco, lá estava um prestativo jovem com maleta de primeiros socorros. Logo estancou o sangue, entre recomendações, limpou os arranhões. No dia seguinte veio com gozação!
– Quem será o próximo?
Dois disputamos esse troféu. Não aposto. Dá azar. O pretenso competidor anda se jactando de nunca ter caído. Fico na minha, aguardando minha vez. Tombo já sofri muitos!
Puxo da memória tia Inácia, apelidada de Catia, irmã mais velha de minha mãe. Antes de completar 90 anos, lúcida e operosa, caiu enquanto varia o quintal de sua casa, em Fortaleza. O fêmur quebrado a levou à cama, sem direito a levantar-se. Católica, resignada, pediu à irmã costureira para fazer a mortalha, nos moldes de sua veste da Ordem Terceira de São Francisco. Ao provar, reclamou do tamanho. A irmã fez os ajustes.
– Agora, sim, Biia, só falta ver Frassales.
Na próxima semana conto o que se deu.
Da Academia Cajazeirense de Artes e Letras
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