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Francisco Cartaxo

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Presente de Solidônio Lacerda

16/03/2014 às 12h04

Solidônio Lacerda está no céu desde o dia primeiro de março. De lá, segue acompanhando o que se passa em Cajazeiras, terra por ele nunca esquecida. Igual a muitos de nós que carregamos Cajazeiras dentro da alma. E a levamos para todos os lugares que nos acolhem. Alguns esquecem, é bem verdade. Outros se envergonham de sua terra. Há quem a despreze. Estes são poucos, felizmente. 

José Antonio já registrou em crônica o pesar pelo encantamento de Solodônio. Agora, transcrevo na íntegra carta postada no Rio, em 30 de agosto de 2007.

Meu caro Frassales
Motivado pela acolhida dispensada aos números do Correio do Sertão, ofertados por Dom Henrique, decidi pôr em suas mãos (não haveria melhores), um trabalho que julgo da maior raridade nos dias atuais. Trata-se de “Padre Mestre Ignácio Rolim”, cujo autor é o Padre Heliodoro Pires, com prefácio do historiador cearense Barão de Studart. O Padre Heliodoro foi levado a Cajazeiras por D. Moysés quando foi tomar posse na Diocese recém-criada, designando-o secretário do bispado.
 
Quando estudava em João Pessoa, no Colégio Pio X, o diretor Padre Francisco Lima, me deu a conhecer a “Biografia do Padre Rolim”, de autoria do mesmo Padre Heliodoro. O livro ficou na minha lembrança. Guardei o desejo de possuí-lo, junto a algumas notas. Inúteis foram as buscas procedidas nos sebos de João Pessoa, Recife e do Rio. 

O tempo passou e um belo dia tenho à minha frente o Padre Heliodoro. Diálogo difícil porque estava completamente surdo, o que constituía a razão do nosso encontro, meramente profissional, vez que veio a minha procura para submeter-se a um exame radiográfico. Falamos de Cajazeiras, narrei a busca realizada, sem êxito, da Biografia do Padre Rolim. Informou que ele próprio não tinha mais o livro e que aquilo era “um dos pecados” de sua vida, adiantando que “foi escrito em cima da perna”, baseado em informações que jamais foram cotejadas. Posteriormente, Deusdedit Leitão apresentou discordâncias e fez retificações. 

Mas um dia fui à casa de Frei Antônio, ex-Xixico e ex-dominicano e, na conversa, contei do contato que mantivera com o Padre Heliodoro. Sorrateiramente, Rolim levantou-se, saiu e retornou, com brevidade, trazendo o livro por mim tão desejado. Com o livro em mãos, a surpresa foi redobrada, com duas palavras – “É SEU!” Achei que não era justo. Informou, então, que tinha outro volume que era sagrado, pois pertencera ao Padre Cícero Romão Batista, autenticado com sua assinatura.

Desculpe ter me alongado. Minha curta permanência no Nordeste, não permitiu nosso encontro. Contudo, mesmo sem gostar de fazer planos para o futuro, a idade já não permite, espero que me seja concedida nova oportunidade. 

Saudações extensivas à família, com o cordial abraço de Solidônio.

P S – Em separado, estou remetendo o livro, igualmente, por via postal.

Notas. Os registros do recebimento de exemplares do Correio do Sertão e do livro do padre Heliodoro estão em crônicas publicadas no Gazeta do Alto Piranhas, nº 453 e nº 456, de agosto e setembro de 2007, respectivamente. Dom Henrique, citado na carta é o frade beneditino Paulo Henrique Coelho, neto do professor Crispim Coelho. O “frei Antônio” é meu homônimo Francisco Cartaxo Rolim, filho do coronel Sabino Rolim.

Não ficarei com o livro muito tempo. Repassarei ao campus da UFCG, onde será mais bem cuidado. E exposto à curiosidade dos interessados. Assim espero.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

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Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

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