Por uma educação das sensibilidades
Fim de férias. Retorno às atividades escolares com uma grande questão: o que precisamos mudar para instaurar definitivamente uma educação capaz de transformar o ser humano? Enquanto professor comungo desse ideal, muito embora acredite ser um trabalho árduo desmontar esses muros de desilusão e de indiferença que atualmente nos cobre.
Rubem Alves, defensor de uma educação romântica, também acreditava nisso, dizia ele “Educar não é programar, mas preparar pessoas para viver melhor”. Isto significa que tarefa da escola não se limita a fazer com que os alunos dominem todos os saberes, mas ensiná-los, antes de tudo, a pensar, a se reinventar. Sei que alguns dirão que há problemas maiores e que essa visão, além de ser utópica, não se materializa em ações contundentes para enfrentar adversidades maiores como a indisciplina, o desinteresse em estudar, entre outras.
Ainda assim, convido você a refletir: qual a raiz de todos os problemas, ou, sendo menos audacioso, o que todas essas contrariedades têm em comum? Eu ouso responder: a falta de sensibilidade. Esquecemos de educar nossas crianças com um olhar mais aguçado diante do mundo, diante do outro. Esquecemos de contagiar nossos alunos com o espírito da empatia, com a beleza das diferenças, com a força motriz de assumir quem eles verdadeiramente são.
Nossas escolas definem-se modernas devido aos seus materiais de ponta, mas a ponta do iceberg ninguém vê. Ninguém vê que a violência não pressupõe simplesmente má conduta ou marginalidade. Inclusive, torna-se necessário à luz da sensibilidade, aproximar-nos dos marginalizados que, muitas vezes, nada mais são que pessoas carentes de afeto.
Vejamos: a criança apresenta um comportamento agressivo em sala de aula, depois os professores veem seu rosto estampado nas páginas policiais – e ele tem apenas onze anos. Há algo de estranho nisso. O professor procura saber e descobre que a mãe desse aluno é dependente química, seu pai morreu baleado e a responsável pelo estudante é sua avó, deficiente visual e esquizofrênica. Considerando tudo isso e sem nenhuma direção, o que resta a essa criança? Uns defenderão a teoria que basta ele querer ser melhor, será? Outros que o caminho é a escola. Mas da qual escola estamos falando: daquela que se interessa integralmente por resultados baseados na “inteligência” dos alunos (inteligência = capacidade de memorizar um determinado número de conteúdos e relacioná-los a uma situação ideal)?
Novamente Rubem Alves com a máxima de que há escolas que são gaiolas e há escolas que são pássaros. Eu confio nesta última escola, neste lugar profícuo para que o aluno possa aprender português, matemática, geografia e histórias, mas que também aprenda a voar, a ver sensivelmente o mundo, a se tornar um ser humano melhor – afinal, é a nossa capacidade de pensar que nos diferencia de todas as outras espécies e que pode, enfim, nos redimensionar para aquilo que nascemos: a sensibilidade de amar.
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