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José Antonio

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Os telhados de minha vida na Vila de Boqueirão

01/08/2022 às 16h37

Coluna de José Antonio - Foto: distrito de Boqueirão, no município de Cajazeiras-PB - reprodução/Coisas de Cajazeiras

Por José Antonio

Quando meus pais se casaram, em sete de setembro de 1945, na Capela de Nossa Senhora Aparecida, no Distrito de Engenheiro Avidos, município de Cajazeiras, alugaram uma pequena casa, no final de uma das ruas da vila de Boqueirão, bem às margens do Rio Piranhas. Da porta do muro dava pra ver a parede do Açude, que meu pai, aos 12 anos de idade, trabalhou em sua construção como catador de raiz, cujo apontador dos dias trabalhados era seu irmão, Joaquim Candido de Albuquerque, que foi professor e cobrador de imposto do município de Cajazeiras e responsável em ensiná-lo o bê-á-bá, a ler e contar precariamente.

A casa dos meus avós maternos, Trajano e Benvinda, ficava na mesma rua e foi nela que nasci porque meu pai não possuía uma cama. Este foi o meu primeiro teto e foi debaixo dele, à sua sombra, que abri os olhos e chorei pela primeira vez.

Recebi o nome de meu avô paterno, José Antonio de Albuquerque e ainda hoje nunca entendi porque nesta homenagem prestada a ele, não acrescentaram “o Neto”, isto me faria muito feliz, porque, embora sejam poucas as suas lembranças e memórias, as referências que pude obter sempre foram as de que era um cidadão de bem e honrado, gostava de política e tinha muitos amigos ligados ao poder, foi dono de muitas terras na Ribeira dos Cochos, daí ser chamado de Coronel Zé Antonio. Vendeu todas as suas terras “legalizadas”, para gastar com advogados, em defesa de terras “devolutas” e no final ficou, como minha vó Isabel dizia: “sem eira, nem beira”.

Fui batizado na mesma Capela que meus pais casaram, pelo Padre José Linhares, de quem fui a procura em 1975, na Serra de Monte Horebe, aonde era vigário, para fazer uma fotografia ao seu lado e nos tornamos grandes amigos e era, talvez, o menor padre em estatura da Diocese de Cajazeiras, porém era grande como ser humano e um extraordinário missionário e de uma ímpar humildade, mas nunca fez parte da cúpula do poder da Mitra Diocesana.

Meus padrinhos de batismo foram Raimundo Marcelino e Mônica, que moravam na vila e depois que se mudaram para Cajazeiras, sempre residiram na Rua Siqueira Campos. Raimundo era motorista e proprietário de um caminhão Chevrolet e fazia fretes e dono de vários imóveis em Cajazeiras e recebia deles uma boa renda mensal. Dos seus filhos, Nego, até recentemente, me encontrava com ele, que se parece muito com o pai, até no jeito de andar.

Minha mãe, Leopoldina, era quem ajudava meu pai no balcão de sua bodega, em cuja dependência tinha uma cozinha, aonde ela fazia meu mingau e outras comidas, este foi o meu segundo teto.

Quando os negócios de meu pai prosperaram, ele alugou uma casa pertencente ao DNOCS, na Rua Laura Andrade, em uma esquina e ficava em frente da Escola onde fui alfabetizado, pela professora Nilza de Mentinho, aos sete anos de idade. Nesta casa nasceram minhas irmãs: Linda, Neide, Francineide, Socorro e Lúcia. Eu dormia na sala e me recordo de uma gata que eu criava e dormia em cima de minhas alpercatas de sola. Minha mãe sempre gostou de gatos, porém, quando a quantidade aumentava ela mandava pegar um saco de estopa no armazém de meu pai, colocava mais de uma dúzia de gatos novos, junto com as gatas e mandava soltar perto de algum lugarejo, mas vez por outra as gatas voltavam.

Da casa da Rua Laura Andrade, migramos para Cajazeiras, os negócios de meu pai prosperaram muito e seus amigos o aconselharam a se mudar para Cajazeiras e o novo estabelecimento foi batizado por José de Roque, um dos homens mais inteligentes da Vila, de Armazém Rio Piranhas. Nesta mudança da Vila de Boqueirão para a cidade de Cajazeiras, abriram-se os horizontes para os negócios de meu pai e uma transformação para a vida de seus nove filhos, que ao longo dos anos ele assistiu, a cada tempo, a formatura de todos eles.

Com os pés em Cajazeiras e na sombra de novos telhados meus pais construíram uma bela história, baseada no amor, na fé e no trabalho, tendo a educação como meta principal. Vida que segue.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

José Antonio

José Antonio

Professor Universitário, Diretor Presidente do Sistema Alto Piranhas de Comunicação e Presidente da Associação Comercial de Cajazeiras.

Contato: [email protected]

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