Ode a saudade
A proximidade de Dia de Finados nos remete a uma profusão de sentimentos que revolvem as mais íntimas subjetividades. Lembranças, saudades, tristezas se misturam em nossos espíritos aquecidos pelo ardor dos milhões de velas que são acesas em túmulos e covas e pelas orações que, em todas as línguas e com todos os ardores, rogam por aqueles que já partiram.
No entanto, a pressa dos tempos modernos está convertendo as celebrações de finados em mera repetição de gestos mecânicos que reproduzem muito mais convenções sociais do que convicções pessoais alimentadas pela certeza de uma possibilidade de vida após a morte. Não mais vivemos o luto pela partida dos entes queridos. Não mais choramos as saudades e os vazios que as ausências físicas e afetivas nos provocam. E nos versos do poeta Vinicius de Morais, Poema de Natal, a tradução de todo nosso sentimento:
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrado
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos –
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos –
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai –
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte-
De repente nunca mais esperaremos…
Hoje a noite é jovem; da morte apenas
Nascemos, imensamente.
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