O nosso pulmão, onde respira?
Por onde respiramos? A resposta não se resume a uma mera explicação fisiológica. Envolve todo um escopo político traduzido em qualidade do ar, no local onde respiramos, na energia que a respiração sintetiza e processa em nossos organismos físicos e políticos.
E a cidade, por onde respira?
Não falo da cidade física, fria, nua, em suas construções de ferro, cimento, vidro e aço.
Embora essa também tenha pulmões que exigem o oxigênio da sensatez para não agredir, tão ostensivamente, o meio, soterrando rios e córregos, queimando árvores e bichos, expulsando histórias e vivências.
Falo da cidade humana, que anda, corre, trabalha, ama, sua, sonha.
Essa cidade que carece de lugares onde, no calor do meio dia, seus apressados transeuntes esqueçam, por minutos, do compromisso seguinte, e se largue em bancos e canteiros sombreados por cajazeiras, juazeiros, baraúnas, angicos, pau d’arcos, enquanto bem-te-vis e rolinhas cantam na preguiça do tempo morno que se espraia e tinge a paisagem de lerdeza e descanso.
Essa cidade que carece de novas áreas habitacionais, necessárias ao seu crescimento. Um crescimento, entretanto, que não pode ser justificado e legitimado com a omissão, ou mesmo cooperação, do poder público, engolindo áreas verdes, espaços para equipamentos sociais coletivos, praças.
Bairros que nascem como aglomerados de casas e estreitas ruas onde a vida se esconde entre muros e portões diligentemente vigiados por câmeras e olhos mecânicos como a reproduzir, no real, a ficção idealizada por George Orwell em sua saga futurista do Grande Irmão.
A cidade que carece de um grande pulmão onde convivam, com harmonia, plantas, aves, animais e gentes.
Um pulmão que, nos fins de tarde e manhãs de domingo, permita que por ele circulem pessoas em caminhadas de saúde, meninos em pressa de bicicletas e patinetes, companheiros em concentrados jogos de dominó e sueca.
Um pulmão que se alarga e se escancara em palcos e anfiteatros onde suas gentes celebrem as festas tradicionais de carnaval e São Joao, sem o inconveniente da interdição de ruas e caminhos.
Um pulmão onde, em trilhas e alamedas, bailam, em temporadas diversas, escoteiras pétalas de pau d´arcos, imburanas, oiticicas, marmeleiros e mufumbos, dividindo om cenário com roseiras cuidadosamente espalhadas em canteiros e balcões.
Mas, é possível, termos esses pulmões espalhados pela cidade que vê morrer, a cada dia, seu açude grande, engolido pela especulação e pela ganância de esgotos, dejetos, aterros e construções?
A resposta depende do nosso grau de convicção de sua necessidade e da nossa capacidade de exigência.
Ou seja, me apropriando dos versos do Ivan Lins, só “depende de nós”.
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