O Morticínio eleitoral em livro acadêmico
Por: Francisco Frassales Cartaxo
O título, Para além dos “fatos”: o morticínio eleitoral na freguesia de Cajazeiras, província da Paraíba do Norte (1872-1877), já denuncia que se trata de dissertação de mestrado transformada em livro. Maria Larisse Elias da Silva veio de Acopiara para Cajazeiras fazer o curso de História na UFCG, graduando-se aos 22 anos. Foi para João Pessoa cursar o mestrado, feito e concluído em 2021.
A autora cumpriu as normas acadêmicas do mestrado em curto prazo, enfrentando as dificuldades da terrível pandemia da covid-19. Com seriedade e dedicação, Larisse Elias arrimou seu estudo em fontes apropriadas, entre as quais destaco quatro fundamentais: a) Inventário Post-Mortem de Joaquim Antônio do Couto Cartaxo, 1855; b) Processo-crime de homicídio, 1872; c) Anais do Senado do Império; d) Jornais da Paraíba, Ceará, Pernambuco e da Corte Imperial. Consultou ainda Relatórios oficiais do governo do Império, da província da Paraíba, além de extensa bibliografia.
Ninguém fizera isso antes.
O estudo é diferente de tudo que se escreveu até hoje a respeito do mais relevante episódio da história política de Cajazeiras. Isso não significa que esgotou o tema. Com segurança, estabeleceu conexões da política local com os interesses provinciais e com instituições do Império. Nada de fato isolado. Carimbou assim o caráter nacional do morticínio. Larisse reforçou suas afirmativas com duas situações semelhantes (disputas partidárias com mortes e feridos) ocorridas na Vila da Telha (hoje Iguatu), em 1860, e em Icó, em 1872, justo na mesma data do morticínio em Cajazeiras! Nesses casos, como em muitos outros sucedidos no Segundo Reinado, conservadores e liberais disputam o poder local de modo violento.
Larisse analisa o “fato” confrontando as versões do Partido Liberal e do Partido Conservador. Para tanto, recorreu a documentos, jornais e discursos de responsabilidade daqueles partidos. Constatou a grande repercussão em estados vizinhos e na Corte, de onde se propagou por todo o Império. Nem assim, a historiografia paraibana o registra! O estudo de Larisse é um soco que deve envergonhar nossos historiadores.
Não espere o leitor, porém, encontrar respostas para questões menores levantadas em torno daquele entrevero armado em Cajazeiras. Isso talvez estivesse fora do radar acadêmico, cercado da rotineira pressão de cursos dessa natureza ou por dispor de reduzido tempo para consultar outras fontes, que estavam ao seu redor. Isso a prejudicou?
Veremos em próximo artigo.
Que 2023 venha com alvísseras!
Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras
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