O jeitoso deputado de Pombal

Cidade de Pombal - reprodução/internet

Por Francisco Frassales Cartaxo  – Chegava de mansinho, conduzido pelo chefe de gabinete em minha sala de trabalho, os óculos sem encobrir pequeno defeito na vista. Sertanejo, sempre dava notícias da nossa região, de forma mitigada, no mesmo tom de voz com que abordava o assunto central da audiência com o secretário do Planejamento do governo de Ivan Bichara. Respeitoso, me tratava com cerimônia, apesar de ter idade suficiente para ser meu pai. Expunha sem arrodeio os pleitos, todos relacionados a Pombal e lugares vizinhos. Minha memória não registra nenhuma reivindicação de natureza pessoal ou pedido de emprego para afilhado.

O deputado estadual Francisco Pereira Vieira, diziam, nunca usava a tribuna da Assembleia. Mas certamente votou a Lei nº 3.916, de 14/09/1977, que criou o Fundo de Desenvolvimento do Estado da Paraíba (FDE), que, entre muitas finalidades, poderia transferir aos municípios recursos não reembolsáveis. (Seu conterrâneo Ignácio Tavares de Araújo, técnico vinculado à SEPLAN, teria soprado ao ouvido de seu Chico o caminho das pedras?) O acesso ao dinheiro do FDE exigia projeto técnico, embora simplificado, representou inovação no método tradicional dos governadores nas relações institucionais. Francisco Pereira encaminhava as demandas da prefeitura de Pombal, realçava sua importância e saia com o passo manso de sempre. Engraçado, tinha uma preferência por calçamento de ruas, gerando certa maledicência… Só agora, passados tantos anos, descobri a razão disso.

Está no livro 250 anos da Fundação da Vila e Instalação da Câmara dos Vereadores de Pombal, de Jerdivan Nóbrega e Verneck Abrantes. Francisco Pereira governou Pombal duas vezes. A primeira, no começo dos anos de 1950, após a morte no exercício do mandato do médico José Queiroga, sendo Chico Pereira seu vice-prefeito. Afirmam eles:

Quando prefeito, colocou os primeiros paralelepípedos nas ruas de Pombal, marcando, com isso, o início do calçamento da cidade.

Na segunda vez, elegeu-se prefeito e logo renunciou para exercer o mandato de deputado estadual. Por isso, frequentava tanto a Secretaria do Planejamento! Francisco Pereira foi eleito nove vezes deputado estadual. Homem rico, para o padrão sertanejo, fazia política de modo muito peculiar, sem agressões, jeitoso, aproximava-se até de adversários. Tornou-se grande eleitor. Fez dos filhos, Adauto e Ademar Pereira, deputados federais, e Aécio Pereira, estadual.

Faleceu em 12 de janeiro de 1995, aos 82 anos de idade.

Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras

Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

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Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]