O jeito de Dorgival Terceiro Neto
Por Francisco Frassales Cartaxo – Quando Ivan Bichara Sobreira se afastou do governo, no começo de 1978, para disputar a vaga de senador, o vice, Dorgival Terceiro Neto, assumiu a chefia sem maiores rapapés. Secretário de Planejamento e Coordenação, desde o início do quatriênio, fui a seu gabinete colocar o cargo à disposição. Em estudado formalismo, falei com solenidade, governador, vim colocar o cargo à disposição. Dorgival se levanta e no seu espontâneo linguajar fuzila a gaiatice:
– Vai te lascar, Cartaxo, era só o que faltava!
A risada invadiu o ambiente. Tínhamos feito camaradagem ao longo do governo, aliás, o conheci cerca de seis meses antes de Ivan tomar posse em 15 de março de 1975. Escolhido com antecipação, segundo praxe da época, e por residir no Rio de Janeiro, Ivan lhe encarregou de ir a Fortaleza solicitar ao presidente do Banco do Nordeste, Nilson Holanda, que me cedesse ao Estado da Paraíba, a fim de ajudar na elaboração do Plano de governo.
Viramos amigos no trabalho.
Ele advogado, jornalista, ex-prefeito de João Pessoa, eu técnico com experiência adquirida na Sudene e no BNB. A Seplan-PB tinha frágil estrutura organizacional e técnica, de modo que não foi tarefa fácil a formulação de um plano governamental. A Presidência da República, porém, dava orientação e apoio financeiro aos estados. Ressalto que o grupo do Plano funcionava à parte das atividades rotineiras da Secretaria. Às vezes, fugia da rota para atender demandas fora do foco central, como exemplifico a seguir.
O ministro Reis Veloso marcou audiência com o governador, pouco antes da posse. Queria conhecer as reivindicações concretas da Paraíba, quanto a investimentos. Foi um Deus nos acuda! Não havia projetos prontos. Que fazer? Um pequeno grupo reunido com Ivan Bichara definiu cerca de uma dezena de pleitos. Urgente era dar-lhes forma e levá-los a Reis Veloso. Aqui entra o notívago Dorgival. Varamos a noite no improviso de formular pré-projetos (ele chamava de memorial) para encaminhar ao poderoso Ministro do presidente Ernesto Geisel. À base de café, lanche e cigarro, ele fumava um atrás do outro, conseguimos fechar o que foi possível, com dados coletados pela equipe do Plano.
Na sede da Sudene, deu-se o ritual de entrega. O governador apresentava um por um. Reis Veloso pedia explicações adicionais e, de pronto, afastou um ou dois por não se ajustarem aos propósitos do poder central. A maioria recebeu acolhida e se concretizou com recursos de Brasília.
Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
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