O jambeiro de Adalberto
Por José Antonio de Albuquerque
O engenheiro agrônomo Adalberto Nogueira estará sempre presente na memória dos inúmeros amigos e admiradores e sua marca e o seu fazer ficaram registrados em muitos cantos e recantos da cidade de Cajazeiras.
Havia entre nós, e principalmente com a minha esposa Antonieta, uma admiração recíproca e em minha residência tem o olhar, o trabalho e a vida dele, que continuam vivas através das plantas, dos adereços e dos objetos do nosso jardim, que de forma sábia e inteligente ele o transformou num recanto muito aprazível, por isto será eternamente lembrado por nós.
Agora em setembro, chegava a minha casa, uma belíssima rosa, em um vaso: era um presente de Adalberto para Antonieta no dia de seu aniversário. Este e outros gestos de cavalheirismo e de muita atenção dele para com toda a minha família iam ao longo do tempo sedimentando a nossa amizade.
No tempo da safra de cajarana, as primeiras colhidas já tinham um endereço certo: Dr. Adalberto, que as apreciava muito e a vasilha era devolvida cheia de mangas de seu rico pomar.
Sempre o visitava e nestes encontros nos cobrava a conclusão de nossa área de lazer e desenhava num pedaço de papel como deveria ser, quais os materiais e plantas que deveríamos usar. Naquele mesa quantos projetos não foram desenhados, sonhados, projetados e executados?
Mas na realidade, além do quase interminável e gostoso papo, o que me deleitava mais era colher os deliciosos frutos de seu jambeiro, do qual sempre me prometia de fazer uma muda para eu plantar em meu sítio. Uma promessa que eu mesmo vou cumprir para que este jambeiro ao frutificar possa ter o sabor da palavra e do entusiasmo dele e de sua permanente lembrança.
A alma de Adalberto era cativa de Cajazeiras, que lhe agradece pelas sementes de gratidão, que recaíram em terreno fecundo, germinaram e desabrocharam em magnífica floração de reconhecimento.
A sua vida, tecida de sacrifícios, de lutas e renúncias, está marcada por gestos e atitudes que o colocam na galeria dos homens que ajudaram na construção de Cajazeiras, principalmente no campo das idéias e do idealismo revolucionário e sempre com passos nos caminhos do combate aos que queriam transformar o exercício do poder numa feira de amigos.
Era um facho de resistência democrática e sua voz jamais emudecera quando era para defender a pureza de seus princípios e de seus nobres ideais. A ele não interessava se sua voz agradava ou não aos donos do poder, mas sim que ela se transformasse num instrumento válido para a promoção do bem comum e no combate às injustiças sociais.
Submissão somente ao seu devotado amor a Cajazeiras, porque nos momentos de sua vida em que esteve no círculo do poder e tentaram, por vias tortuosas, ferir os seus princípios ou de ameaçar-lhe de solapar a noção dos valores essenciais, preferiu a solidão da planície e o silêncio de seu coração. Na realidade o poder nunca foi sua estrada, preferia a agressividade dos cactos nos tabuleiros estéreis e a indiferença das pedras ao longo das estradas palmilhadas pelo sofrimento humano.
Imagino a profusão de flores que o jambeiro de Adalberto soltou ao chão, nestes dias de abundantes chuvas, para formar um belo e encantador tapete vermelho para que a sua alma possa continuar caminhando nas alamedas do seu jardim.
Saudades meu amigo, mas sua vida vai continuar viva em cada árvore que você plantou nos jardins deste sertão e em especial as que nasceram no coração de cada cajazeirense que o admirava e respeitava.
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