O gol de Romário

Lula encheu a bola de Romário. Ao incensar nossa auto-estima, em solenidade repleta de empresários, o presidente lembrou a Copa de 1994, quando a seleção saiu daqui desacreditada, meio capenga, disse o presidente, só tínhamos o Romário, mas vencemos.

Romário deve ter adquirido cópia da fita com a fala de Lula divulgada na televisão, no dia 18 deste mês. E não será para exibi-la no futuro aos seus netos. Talvez a utilize para conquistar votos na eleição de outubro. Isso mesmo. Aposentado dos gramados, ele quer fazer gols em Brasília.

Romário Faria de Souza filiou-se ao Partido Socialista Brasileiro (a mesma agremiação do ex-prefeito de João Pessoa, Ricardo Coutinho) e vai pleitear vaga na câmara dos deputados. Em entrevista concedida a uma revista semanal, Romário levanta duas bandeiras de campanha: lutar pelos jovens da periferia carioca, ele que é originário da favela de Jacarezinho; e, pai de menina com síndrome de Down, promete ajudar as crianças portadoras de necessidades especiais.

O PSB, que sonhava fazer de Ciro Gomes uma opção competitiva à sucessão de Lula, concentra-se agora na estratégia de crescer para credenciar-se como alternativa de poder em 2014. Para tanto, precisa ampliar, significativamente, sua bancada no Congresso Nacional e eleger governadores fora do Nordeste, libertando-se do viés de partido nordestino, embora aqui permaneça sua maior e mais sólida base, apoiada, sobretudo, nos governos do Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco. A maioria dos 27 deputados federais do PSB também é do Nordeste. Esse desequilíbrio explica a investida desse parido nas regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste.

Certo de que crescerá mais ainda no Nordeste, (onde possui cinco candidatos a governador com chances de vitória, nos três estados referidos e mais Piauí e Paraíba) o PSB ensaia vôos ousados em outras regiões. No Norte (Amapá), no Centro Oeste (Mato Grosso) e, em especial, no Sudeste. Em São Paulo lançou o ex-presidente da poderosa FIESP, Paulo Skaf, ao governo, mesmo correndo o risco de trazer para o interior do partido fortes contradições, a começar pela enviesada convivência daquele líder da elite empresarial paulista com a nossa conterrânea de Uiraúna, a deputada Luiza Erundina, cuja firmeza ideológica e atuação política são plasmadas nos movimentos populares. Já no Espírito Santo, a aliança com o PT e o PMDB, inspirada por Lula, beneficia o líder do PSB no senado, Renato Casagrande, candidato a governador.

Romário se encaixa no segundo objetivo estratégico do PSB: aumentar a representação na câmara dos deputados. Em São Paulo, Marcelinho Carioca, outro polêmico jogador de futebol, ídolo de time do ABC paulista, entra também na chapa de candidatos a deputados federais do PSB. A tática pode ser questionada, mas em ano de Copa do Mundo a tentação é grande. E com a referência de Lula a Romário, o herói de 1994, então, é bola da rede!

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Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

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