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Adjamilton Pereira

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O bom cigano

16/07/2013 às 19h18

O seu porte elegante e de linhas bem definidas lembrava as figuras amarelecidas de antigos filmes hollywoodianos. Olhos claros, pele alva, andar ligeiro e um falar alto e entrecortado por frases engraçadas. Muitas vezes chegava cedo a nossa casa de Impueiras trazendo a tiracolo algumas galinhas ou uma criação (caprino ou ovino). Após tomar um gole de café e atualizar a prosa começava a negociar os animais com mamãe. Uma transação que, depois de muitas idas e vindas, sempre terminava com alguém tentando entender quem, afinal, teria saído no prejuízo considerando que os dois, com experiência cigana para a mercancia, sempre alardeavam seus dons de bons comerciantes.

Na época de São João também saía negociando traques, chuvinhas e outros apetrechos típicos da estação. Como bom negociante sempre propagandeava que seus produtos eram os melhores, embora, muitas vezes, os traques não passassem de “bufa de velha”, expressão popular empregada para designar a falha desses explosivos, antecipando a frustração de quem o soltava, sobretudo, crianças que, nestes momentos, alimentam uma grande expectativa em torno dos folguedos e das brincadeiras aquecidas pelo calor das fogueiras. 

Percorrendo as ribeiras de Impueiras, Cipó, Bom Jardim, Riacho do Meio, a pé ou numa velha e desbotada bicicleta, sua figura era sempre a antecipação de alegria, da boa conversa, da atualização dos fatos e acontecidos das comunidades. Chegava com alarde, tomava um gole de café e, após vender algum produto e conversar sobre amenidades e fatos da vida cotidiana, saia. Jamais aceitava convite para uma refeição, mesmo chegando nestes horários.

Em torno de sua figura se construiu toda uma aura de mistério e bizarrice. Dizia-se que ele não andava de carro e que, certa vez, tendo que ir fazer um tratamento médico em João Pessoa, de lá retornou a pé, escapando sorrateiramente do hospital após reunir as mínimas condições físicas para a empreitada de percorrer mais de quinhentos quilômetros. O percurso da ida foi feito de automóvel porque ele não estava no gozo de suas capacidades físicas plenas.

A revelia de todas essas estórias e crendices, ele era um ser humano gentil e generoso. Mantendo um singelo, mas inquebrantável sentimento de amor a família, sempre teve pelos filhos uma especial maneira de demonstrar carinho e acolhida, mesmo quando seus comportamentos destoavam de sua orientação paternal. 

Esse era Agostinho de Nãna, como todos o conheciam, e que faleceu recentemente. A sua partida deixou os caminhos e trilhas de Impueiras mais tristes e mais desertos.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Adjamilton Pereira

Adjamilton Pereira

Adjamilton Pereira é Jornalista e Advogado, natural de Cajazeiras, com passagens pelos Jornais O Norte e Correio da Paraíba, também com atuação marcante no rádio, onde por mais de cinco anos, apresentou o Programa Boca Quente, da Difusora Rádio Cajazeiras, além de ter exercido a função de Secretário de Comunicação da Prefeitura de Cajazeiras.

Contato: [email protected]

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Adjamilton Pereira é Jornalista e Advogado, natural de Cajazeiras, com passagens pelos Jornais O Norte e Correio da Paraíba, também com atuação marcante no rádio, onde por mais de cinco anos, apresentou o Programa Boca Quente, da Difusora Rádio Cajazeiras, além de ter exercido a função de Secretário de Comunicação da Prefeitura de Cajazeiras.

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