O Açude Grande: cem anos no coração do povo de Cajazeiras
Por José Antonio de Albuquerque
O Açude Grande de Cajazeiras volta a sangrar, às vésperas de completar cem anos. As nuvens de março, este ano, foram favoráveis e abundantes de água, diferente das nuvens cantadas nos versos de Cristiano Cartaxo, inspirados em um ano de seca:
“Para onde vais, fugindo assim às pressas,
Tu que és filha daqui? Não te comove
O aspecto bruto, o horror medonho dessas
regiões em que há seis meses que não chove?”
O chão, o céu, os pássaros em coro,
Rios, açudes, tudo mais enfim,
Ressuscita à harmonia do teu choro,
O próprio sol se ameiga ao ver-te assim.
Nuvem, piedade! Ao menos com o manto
De tuas sombras cobre os sertões nus
Para que o sol não queime a terra tanto
E o homem não viva amaldiçoando a luz…”
O choro das nuvens este ano está sendo muito forte e não está havendo piedade nem pena de lágrimas. A terra está vomitando água e nosso poético Açude Grande está transbordando e Irismar di Lira, o nosso outro poeta, assim o canta:
O Açude Grande
Mais belo que qualquer açude
Banha a minha aldeia.
O Açude Grande
Maior que qualquer açude
Água a minha veia.
Voltarei a contemplar o seu crepúsculo
(para que a dor em meu peito abrande)
Quero afogar as mágoas, deste coração minúsculo,
Nas águas mansas do Açude Grande.”
E as multidões correm para ver o espetáculo das baronesas a bailar sobre as suas águas que passam por baixo de sua ex-histórica ponte e descem pelo canal, exprimidas, sufocadas e sem destino.
Por que o povo desta cidade gosta tanto do Açude Grande, de contemplar o seu por sol, que segundo os poetas é o mais belo do mundo? A importância deste açude remonta aos fundadores da cidade; Vital e Ana, cujo filho Padre Rolim, nascido em 22 de agosto de 1800, inicialmente o construiu e em 27 de dezembro de 1915, ano de uma grande seca, teve inicio a sua ampliação pelo governo federal, supervisionado pelo engenheiro Coelho Sobrinho, que ali investiu 73:201$425, cujas obras foram inauguradas festivamente em 16 de abril de 1916 e recebeu o nome de “Senador Epitácio Pessoa”.
Parte de suas águas acumuladas foi formada pelo suor e pelas lágrimas dos 300 “cassacos” famintos contratados para a sua construção. Suas águas também mataram a sede do povo de Cajazeiras até a década de sessenta.
Cajazeiras é a única cidade que conheço que se dá ao luxo de ter um açude com a capacidade de armazenar 2.599.600 metros cúbicos de água que não tem serventia alguma. Suas águas estão poluídas pelos esgotos de parte da cidade e impróprias para o consumo humano. Qual será o dia que ele deixará de ser apenas cantado em versos e poemas para ter uma verdadeira utilidade, inclusive de ordem econômica, transformando-se num açude onde existam muitos peixes para ajudar e contribuir na formação de renda e trabalho para muitos cajazeirenses?
É preciso tornar as águas do açude grande potável, para que o velho ditado volte a funcionar: “quem bebe as águas do Açude Grande, jamais esquece Cajazeiras”.
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