Novos tempos
A agitação das ruas trazendo um clima de convulsão social vem marcando o cotidiano de cidades em diversas partes do planeta. O mote comum a toda a agitação é o protesto contra a forma com que o capitalismo vem tratando uma questão essencial: o ser humano. Assentado no lucro e no crescimento exacerbado, nos últimos três séculos, o desenvolvimento do Ocidente se legitimou em dois pilares: a crença inabalável no conhecimento e na ciência como parâmetro de evolução de todos os homens e a convicção de que os recursos da natureza são inesgotáveis.
Essa última crença vem sendo, paulatinamente, desmontada com os danosos efeitos que o aquecimento global vem provocando em todo o planeta, arrastando em seus efeitos ricos e pobres, do norte e do sul. O desaparecimento de lagos, o descongelamento de montanhas milenarmente nevadas, o derretimento das calotas polares, o aumento dos níveis dos oceanos e o risco de alterações significativas na paisagem de diversas partes do globo. Efeitos que podem ser superdimensionados quando são ponderadas a precariedade da situação de saneamento e de moradia de muitas localidades situadas em países como o Brasil. Uma situação global que traz para o cenário um novo personagem: os fugitivos do clima.
Outra crença que se desfez e cujo desapontamento explica a crise atual é a confiança no conhecimento e na ciência como pressuposto da evolução humana. O homem, investido da racionalidade e da lógica, produz engenhos e inventa maquinarias e saberes capazes de suplantar qualquer sujeição, qualquer atraso, qualquer miséria material. A aposta num admirável mundo de sonhos e possibilidades se converte em quimera que se dissipa nas guerras, nas armas químicas, nas sementes transgênicas que movimenta o milionário mundo do agronegócio, roubando da mesa de milhões de famintos, o feijão, a batata, o inhame, a dignidade.
Hoje, as manifestações contra o capitalismo não mais são articuladas nos sindicatos de trabalhadores e nas assembléias de operários. Tampouco as portas das fábricas assistem aos piquetes medindo forças com os aparatos repressivos. Tudo é tramado nas redes mundiais de computadores, em mensagens que, na rapidez do instantâneo, cruzam ciber espaços e unem cristãos e mouros, orientais e ocidentais, gregos e troianos, famintos e abastados, homens e mulheres. Todos reclamam que a crise que vem afetando as principais economias do planeta tem sua gênese num plausível causa: o negligenciamento do homem e do planeta com sua rica diversidade de paisagens humanas e naturais como foco central da existência da vida.
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