Nestor Rolim viajou com Zé Limeira?
Por Francisco Frassales Cartaxo – Semana passada escrevi neste espaço que o poeta Zé Limeira fez cantoria na fazenda Melancias, hoje distrito do município de Santa Helena. Houve quem debochasse, isso não tem fundamento! Se for invenção, minha não é. Vai para a criatividade de Orlando Tejo, que imortalizou o excêntrico repentista no inusitado Zé Limeira, poeta do absurdo, livro de muitas edições, com milhares de exemplares, hoje ofertado em sebos até por 850,00!
Nele, Orlando Tejo narra a ida às Melancias.
Zé Limeira, que só viajava a pé, a muito custo aceitou trepar num carro-de-boi. E o fez na companhia de um colega, repentista José Alves Sobrinho, e do estudante Nestor Rolim. Percorreram cerca de 30 km até a alpendrada casa de Raimundo Rolim, onde se deu a peleja entre os dois vates populares. Bela noite de festa sertaneja, como nunca a redondeza tinha participado: comida e bebida à vontade, muitos “vivas” aos artistas afamados.
“Mestre Raimundo Rolim, Capataz das Melancia, Eu posso até lhe ensinar Repente e pilogamia, Abeia tem a ciência, A lua é quem alumia”.
“Macho de abeia é zangão E feme de home é muié, Quem quisé vá no cortiço, Chegue lá e beba o mé, Cachorro vai pelo faro Quem tem linha é carrité”.
“Getúlio Vargas morreu Foi com saudade da esposa, Lampião inda tá vivo Morando perto de Sousa, Por detrás do Sete-Estrelo Tem um casal de raposa”.
No intervalo, conta Orlando Tejo, “Nestor Rolim redige o primeiro mote da cantoria”: Canta, canta, cantador, Que teu destino é cantar. Zé Limeira inicia a glosação:
“Quando o carão tá cantando É sinal que vem inverno, Eu sou um nego moderno, Foi não foi eu tou pensando. Amanhã tô viajando Pru sertão de Bogotá. Tico-tico no fubá, Padre Juiz e Doutor, Canta, canta, cantador, Que teu destino é cantar”.
“Numa berada de serra Dom Pedro ficou de coca, Começou tirá taboca Do cabeceiro da terra, Veio a febre berra-berra Pru dentro dum caçuá, Comendo o tamanduá Da filha do Promotor, Canta, canta, cantador, Que teu destino é cantar”.
Entusiasmado, Nestor ofereceu outro mote: Quem sabe o que sou, sou eu, Sou eu quem sabe o que sou. Zé Limeira abafou:
“Um dia eu passei pru dentro Duma cancela deserta, Tava a lua toda aberta Debaixo dum pé-de-vento… No terreiro do convento Um canário me chamou, Daí o juiz chegou Pra prendê João Eliseu… Quem sabe o que sou, sou eu, Sou eu quem sabe o que sou.”
Nestor Rolim veio do Rio para comemorar seus 86 anos, em Cajazeiras, sábado, dia 16.Taí a oportunidade ímpar para relatar sua (a)ventura com Zé Limeira!
Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
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