Morte de Byron Queiroz
“Você não terá mais sossego na vida”, disse a Byron um técnico do BNB, seu amigo, ao desistir de tentar demovê-lo de levar adiante medidas nocivas ao banco. Byron não deu bolas, executou seus planos que causaram brusca e dramática queda na receita dos aposentados. Traumatizados, muitos adoeceram. Alguns morreram. Um caso foi brutal: o aposentado matou a filha, a esposa e cometeu suicídio. Uma tragédia.
Byron Queiroz, que foi presidente do BNB entre 1995 e 2002, tomou decisões arbitrárias de duvidosa eficácia, incluindo aquelas contra aposentados. Estes ganharam na Justiça quase tudo de volta. O Gazeta do Alto Piranhas, nº. 470, de 14 a 20/12/2007, de Cajazeiras, publicou este meu texto:
Furacão da “mudança” – Byron chegou feito um furacão, querendo reformar estruturas arcaicas do BNB, a toque de caixa, espelhando-se em parâmetros trazidos da iniciativa privada. Dizia-se inovador. O furacão varreu direitos adquiridos de aposentados e princípios éticos, pelo visto.
Em que deu? O ex-presidente do BNB, Byron Costa de Queiroz, foi condenado pela prática de crimes contra o sistema financeiro e incurso, também, em leis penais, em virtude de “violação frontal, sistemática e deliberada da ordem jurídica e da boa prática bancária e contábil”, nos termos de sentença prolatada, em 16/11/07, pelo juiz federal José Donato de Araújo Neto, da 12ª Vara (Fortaleza), da 5ª Região. Byron e mais cinco: Ernani Varela, Osmundo Rebouças, Nonato Carneiro, Marcelo Pelágio e Arnaldo Menezes.
A história política do Ceará sofreu forte inflexão com a vitória de Tasso Jereissati ao governo do Estado em 1986. Tasso passou mais de 10 anos preparando-se para tirar o Ceará das mãos dos coronéis Virgílio Távora, César Cals e Adauto Bezerra, que dominaram a política cearense desde 1962, quando Virgílio se elegeu governador pela UDN. O golpe de 1964 tornou tudo mais fácil para os três, coronéis do Exército que eram.
O primeiro sinal de mudança surgiu com a eleição de Maria Luiza prefeita de Fortaleza, em 1985, abrindo caminho para o projeto de jovens empresários que fizeram do Centro das Indústrias do Ceará – CIC o polo da luta contra os coronéis. Byron Queiroz era uma das figuras proeminentes ao lado de Beni Veras, Sérgio Machado, Costa Lima e outros. O CIC reuniu, também, professores e técnicos do BNB que, mais tarde, tornaram-se peças chaves no “governo da mudança”. Ao chegar ao poder, o CIC rompeu um ciclo da arcaica política cearense. Já se disse que Tasso repetiu, 30 anos depois, o que Cid Sampaio fizera em Pernambuco, em 1958, ao desalojar do poder os coronéis do PSD. Um avanço e tanto.
Pois bem, em nome dessa renovação, Byron Queiroz presidiu o BNB, nos dois governos de Fernando Henrique, depois de servir como secretário estadual no Ceará. E o fez com mão de ferro. Ou na linguagem do juiz, que agora o condena, com “administração centralizadora”, sem “transparência e seriedade na condução dos negócios”. O novo ficara velho. Ou era falsa a mudança?
As penas aplicadas aos seis processados variam de 9 a 13 anos de reclusão e, além de multas, manteve-se o “sequestro dos bens para garantir o ressarcimento dos prejuízos”. Por quê? Porque os seis participaram, de alguma forma, de operações irregulares, de que resultou prejuízo, “apesar de não calculado, definitivamente,” da ordem de 2,5 bilhões de reais.
O processo, de autoria do Ministério Público Federal, contou com a ativa colaboração da Associação dos Funcionários Aposentados – AABNB, teve início em 2002 e ainda vai andar muito até seu desfecho. O furacão da “mudança” deixou estragos no BNB e também em famílias Nordeste afora.
Até aqui, o artigo de 2007.
Uma úlcera matou Byron, 66 anos, sábado, dia 5 deste mês. Em 2009, foi absolvido de acusações criminais no Tribunal Regional Federal do Ceará. Continuava, porém, com os bens indisponíveis. E havia outras ações em andamento. Foi alertado de modo certeiro: Byron não teve “mais sossego na vida”. Na “outra vida”, talvez tenha que ouvir de cada uma de suas vítimas tristes histórias.
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