“Minha pátria é a língua portuguesa”
Por Wallace Dantas
A Língua Portuguesa sempre foi aclamada seja pelos próprios falantes, ou por aqueles que a admiram. Tido como o idioma mais difícil, o português é o sexto mais falado do planeta (Brasil, Goa, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Macau e Timor Leste).
Fernando Pessoa, ao dizer que “a minha pátria é a língua portuguesa” (mesmo usando em muitas de suas obras aquela que hoje é chamada de ‘língua universal’ – a língua inglesa), defendia a beleza, a magnitude e o fascínio que nos traz esse idioma, apesar de suas inúmeras regras que, muitas vezes, nos fazem desistir por um breve espaço de tempo. Mas como amor dá trabalho para se ter, a língua portuguesa, como a amamos, faz-nos ter um pouco de trabalho.
De Fernando Pessoa, em Portugal, para escrever sua literatura; de Machado de Assis, no Brasil, para escrever também a sua literatura; ou de qualquer outro brasileiro que precise do português para ou falar bem ou ser aprovado em um concurso público, a língua portuguesa exige, dos que dela se aproximam, disciplina, tempo e paciência. E poucos entendem isso!
As grandes obras literárias (e é um erro não se ler literatura atualmente!) não foram escritas do dia para noite. Seus autores dedicaram esforço, tempo, paciência e conhecimento da língua portuguesa para escrever suas obras-primas. Fernando Pessoa, por exemplo, ao escrever “O guardador de rebanhos”, precisou do ano de 1914. Machado de Assis, ao escrever “Memórias Póstumas e Brás Cubas”, usou o período de março a dezembro de 1880. Simploriamente, significa que escrever, usando a língua portuguesa, realmente não é tarefa fácil. Se para os grandes autores, o tempo foi amigo íntimo na elaboração de suas obras literárias… que diremos nós quanto ao tempo necessário para nossas criações e idealizações?
É importante percebemos que para tudo nesta vida precisamos de tempo. Tempo, na verdade, deve ser aliado, não inimigo. E nós, brasileiros, trabalhadores, que temos um sem-fim de atividades a realizar durante o dia a dia, temos que usar o tempo ao nosso favor. Uma prova? A aprovação em um concurso público, por exemplo. E muitos, mas muitos mesmo, estão sendo reprovados porque não dedicam tempo suficiente, como os grandes autores de nossa literatura, para sempre estudarem a língua portuguesa.
Considerando a realidade, não dos grandes autores literários, mas de pessoas comuns, brasileiros, em tempos de crise e recessão (como os que estamos vivendo atualmente), que querem uma aprovação em um concurso seja de esfera municipal, estadual ou federal, nasce, aqui, no “Diário do Sertão”, este espaço, esta coluna… Nosso objetivo é, periodicamente, trazer reflexões sobre a língua portuguesa, objetivando esclarecimentos desse tão magnífico idioma nos concursos públicos e no dia a dia, tentando sanar algumas/várias dúvidas.
Não queremos aqui ensinar a fazer literatura, mas queremos conversar sobre a língua portuguesa, incentivando – sempre que possível – a leitura da literatura nos seus mais diversos campos e níveis. Acreditamos que o conhecimento das regras normativas da língua portuguesa nasce a partir de uma carga de leitura efetiva, cotidiana, rotineira; em outras palavras, é impossível saber português sem ler o que em português está escrito e produzido.
O português tem sido o calcanhar de Aquiles2 de muitos concurseiros. E, sinceramente, acreditamos que não deveria ser algo tão horrendo assim. Mas, parafraseando Fernando Pessoa, que dizia que a ortografia é gente, pensamos que a língua portuguesa é gente. E, convenhamos: compreender gente não é tarefa simples!
Portanto, estejam todos, absolutamente todos, convidados a, semanalmente, lerem e debaterem, por meio de nossos escritos, as regras normativas do nosso idioma, em uma parceria com a LFG-Cajazeiras e o “Diário do Sertão”. Avisamos que, vez ou outra, produziremos crônicas, contos e traremos, também, reflexões sobre a literatura de um modo geral, como forma, inclusive, de incentivo. Deleitem-se neste espaço primoroso da nossa língua, da nossa pátria. Afinal, “(…) tenho … um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa. (…) Sim, porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-ma do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.” (PESSOA, 1988, p. 84)
REFERÊNCIA:
PESSOA, Fernando. Do “Livro do desassossego”. In: MOISÉS, Massaud. O Banqueiro anarquista e outras prosas. São Paulo: Cultrix, Editora da Universidade de São Paulo, 1988, p. 83-84.
1 Referência direta, sem alteração, de uma passagem do “Livro do Desassossego” de Fernando Pessoa.
2 Menção direta à lenda grega do filho do rei Peleu e da deusa Tétis, Aquiles, que foi mergulhado nas águas do rio Estige, por sua mãe, sendo segurado pelo calcanhar que não foi mergulhado, ficando, portanto, a única parte vulnerável do corpo.
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