Meus lugares e minhas lembranças
Por José Antonio – “As recordações da infância são as que nos aprisionam no tempo e tem um tom de saudade e de felicidade”.
Até os dez anos de idade, 1946/1956, vivi a minha infância no Distrito de Engenheiro Avidos e só tenho boas lembranças que nunca foram “apagadas” da minha memória. À beira do fogão a lenha, agarrado na saia da minha mãe, soavam os apelos para matar a fome que se manifestava, que por diversas vezes ela se atrasava em preparar, porque ajudava meu pai no atendimento dos fregueses de sua bodega, além das costuras de suas clientes que já haviam passado do prazo para entregá-las. Era um ambiente dedicado ao trabalho, mas tinha a liberdade, depois das aulas, para fazer traquinagens e bagunças nas casas dos primos, amigos E tomando banho no Rio Piranhas.
Numa noite de São João, diante de uma fogueira, me tornei afilhado de mais de dez pessoas, todos homens, que a partir de então passaram a ser compadres de meus pais. O último que morreu foi Chico Lima, a quem sempre pedia sua benção. Para não perder este vínculo com minha infância, em seguida tomei como minha madrinha de fogueira, Teresinha Emídio, esposa de meu sogro Chico Emídio, que depois do seu falecimento, mandei fazer uma grande fogueira na Fazenda João Emídio, em Pilões, Rio Grande do Norte e tomei como madrinha Nilda Viola, uma querida e respeitada amiga e vizinha de propriedade. Enquanto viver desejo manter este vínculo de “fogo” com minha infância através de meus padrinhos e madrinhas.
Tenho guardado com muito carinho, num cantinho do coração, a minha primeira viagem, com o objetivo de visitar um irmão de meu pai, Joaquim Cândido de Albuquerque, no Sítio Bamburral, em Cachoeira dos Índios, ele que era um professor itinerante, que se deslocava para as propriedades, para dar aulas, aos filhos de fazendeiros e agregados e foi cobrador de impostos da prefeitura Municipal, função que exerceu com muita eficiência e foi fiscal/apontador na construção do Açude de Boqueirão de Piranhas, aonde meu pai trabalhou como “catador de raiz”, aos 12 anos de idade. Um dos seus filhos Robério Albuquerque era poeta e foi um dos Expedicionários da FEB, na Segunda Guerra Mundial. Joaquim era uma pessoa carismática e prestou relevantes serviços ao município de Cajazeiras.
À capela dedicada a Nossa Senhora Aparecida tenho fortíssimos vínculos: nela fui batizado pelo padre José Linhares, de estatura menor que a minha, a quem eu tinha, enquanto viveu, um carinho muito especial. Foi nela que meus pais se casaram em 1945 e fiz minha primeira comunhão. Voltando ao Distrito tenho como obrigação ir rezar nos pés da Santa e pedir saúde e paz. Durante as novenas eu era um dos escalados para retirar a ponta-pé os sapos do patamar para que as mulheres pudessem tomar chegada. E como todo peralta menino era um “trabalho” que parecia ser uma festa.
Em cada rua da Vila do Distrito, nas suas praças, na vila do DNOCS, no açude, no rio, na Capela e na bodega de meu pai foram e são lugares que criei vínculos muitos felizes na minha vida e eles jamais se rompem mesmo ao entardecer da minha caminhada terrena, mas sinto muita falta do badalar do sino da capela, que foi retirado da locomotiva que puxava os vagões carregados de pedra para a construção do açude, que a cada sonora badalada, anunciando a missa, a novena ou o enterro toca profundamente minha alma e me transporta aos tempos de menino a correr nu de cintura para cima e pés descalços pelos caminhos da esperança.
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
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