Melhoramentos urbanos e tecnológicos de Cajazeiras nos anos 1920
De acordo com Leitão (2000), a partir de 1920, a cidade de Cajazeiras começara a passar por transformações tanto na urbanização, como nos melhoramentos tecnológicos, o que acabara por ampliar e aperfeiçoar as relações que se estabelecia entre os comerciantes cajazeirenses e as cidades vizinhas. Dessa forma, as relações com a capital João Pessoa só vão melhorar a partir da chegada do trem em 1923, além do acrescimento das estradas de rodagens nos anos 1930.
É inegável que a presença do trem causou, nas cidades em que esteve presente, profundo impacto no cotidiano e na dinâmica social local. “Segundo informações colhidas com Dona Marilda Sobreira (in memoriam) há alguns anos, a chegada do trem a Cajazeiras era um acontecimento: a estação da cidade se tornava um ambiente de sociabilidade e diversão, onde a juventude do interior se apresentava com esmero e se aglutinava para recepcionar o trem e as novidades com ele chegadas – esta era uma prática extensiva a todo Brasil. Inclusive o rolo do filme que iria ser projetado no Cine Moderno a cada semana, de acordo com Dona Marilda, também era esperado com ansiedade na estação do trem (ROLIM, 2010, p. 72).
Nesta época a população de Cajazeiras começou a aumentar significativamente, o que fez com que a cidade ganhasse uma série de inovações como a chegada da luz elétrica, do cinema, do trem de ferro, do telefone e do telégrafo, impressão de jornais locais, revistas, prática do futebol, internatos (Colégio Normal Nossa Senhora de Lourdes), além de vários prédios, casarões e melhoramentos urbanos que estavam sendo construídos, dando ares modernos de civilização a uma região que outrora era bastante ruralizada. Com a implantação de ferrovias, em cidades do interior os problemas de circulação de mercadorias foram resolvidos e a cidade passou a exportar o algodão colhido em outros estados e cidades paraibanas.
Ademais, o governo da Parahyba do Norte (na época este era o nome do nosso estado) possuía a necessidade de concluir as melhorias urbanas e em virtude deste fato, foi necessária a arrecadação de divisas orçamentárias que a expansão do algodão ajudou a atender na década 1920. Assim, este produto foi fonte de imensa fortuna, tanto para o poder público como para os produtores sertanejos, além de contribuir para que o processo de urbanização/modernização fosse aplicado a fim de melhorar a infraestrutura da cidade.
Leitão (2000) destaca ainda que o aperfeiçoamento social e o crescimento do comércio em 1928 concediam a Cajazeiras uma supremacia em toda a região sertaneja, com sua feira semanal que reunia diversas pessoas na comercialização de produtos regionais. Já as lojas lotavam de fregueses interessados nas novidades recém-chegadas das praças de Recife e Fortaleza, o que acabava ligando Cajazeiras através da rede ferroviária a quase todas as regiões do Nordeste:
A Rede Viação Cearense já estendera os seus trilhos à região do Rio do Peixe, beneficiando Cajazeiras, Sousa e São João do Rio do Peixe, que passaram a se sentir mais próximos de Fortaleza para os seus contatos a que chamávamos de banho de civilização. Mas houve outro fator desenvolvimento no aprimoramento da sociedade local que resultou da instalação, em 1915, da Diocese e da consequente ação pastoral de Dom Moisés Coelho que dera a Cajazeiras o primado cultural que tanto a projetou entre as demais cidades da região (LEITÃO, 2000, p.35).
De acordo com Costa (1986), entre os anos 1928-1929 durante o governo do prefeito cajazeirense Hildebrando Leal houve diversas mudanças e reformas na cidade: construção da primeira Praça de Cajazeiras, denominada Praça da Matriz, atualmente Praça Nossa Senhora de Fátima, o primeiro calçamento em pedras de paralelepípedos, na Rua Tenente Sabino, além do rebaixamento das calçadas construídas antigamente para melhor servir de sustentáculos às construções das casas. “Neste período também houve inovação na iluminação elétrica com a substituição do velho motor a gás, por outro novo, o diesel” (COSTA, 1986, p. 87).
No entanto, de acordo com um jornal da época, em Cajazeiras, na década de 1920, já existia interesse por parte do prefeito local em implantar a iluminação elétrica para a cidade, reconhecida como um grande avanço para a população. A administração do prefeito Hildebrando Leal fazia milagres para realizar os melhoramentos na cidade, que se traduziu na construção das calçadas, sua extensão dos meios-fios, no calçamento a paralelepípedo, na limpeza do lixo e nas modificações da luz elétrica.
[…] De longe se ouvia aquele barulho de velho e ronceiro gerador de energia elétrica, de corrente contínua, cujo técnico, José Sinfrônio e seus auxiliares, fazia milagres, mantendo em Cajazeiras esta mostra de civilização que era a luz elétrica (COSTA, 1986, p.96).
Com o avanço da luz elétrica pública, a população poderia sair às ruas com segurança, e as mulheres ainda que acompanhadas, também poderiam desfrutar dos passeios noturnos nas praças e jardins ou das festas religiosas, procissões, missas, visto que a criminalidade diminuíra em virtude da luminosidade. Já nas residências, a luz elétrica passou a ser artigo de luxo das classes abastadas, devido às despesas de instalação e pagamento das taxas.
Além disso, os lugares públicos se tornaram o ponto de encontro, de sociabilidade e entretenimento das elites, tanto que a população e os administradores públicos passaram a se preocupar com a boa estrutura das praças e dos jardins públicos, além dos eventos que ocorriam nestes espaços. Tal preocupação com a cidade e com os lugares de lazer que ela proporcionava fazia parte da vida moderna valorizando cada vez mais as urbes.
Dentro desta perspectiva, os cinemas também fizeram parte da cidade de Cajazeiras, sendo uma das poucas opções de lazer entre as décadas de 1920 e 1930. A telona se transformou numa forma das moças poderem “namorar” ou “paquerar” sem as vistas dos pais, numa época em que tais formas de sociabilidades eram bem complicadas e difíceis.
Ao chegar à cidade de Cajazeiras nos anos 1920 o cinema causou um grande encantamento por parte da juventude que esperava ansiosamente a hora de assistir a „fita de cinema? como era chamado o filme. Entre os anos 1920-1930, os principais cinemas da cidade, o Cinema Paraíso depois chamado de Cinema Moderno e o Cine Teatro Éden, eram vistos como a principal diversão das moças e rapazes da época que além de irem ao cinema para se divertir, iriam namorar ou paquerar, evidentemente. “O reflexo daqueles filmes de Tom Mix, Buck Jones, Pola Negri e Douglas Fairbanks, fazia com que nós adolescentes, imitássemos estes artistas em nossas brincadeiras, nos pátios dos colégios e nos matagais próximos” (COSTA, 1986, p. 70). Na Terra do Padre Rolim muitos filmes foram vistos como motivos de escândalo ou rejeição, pois os pais das moças solteiras as proibiam de assistir às fitas, devido eles concordarem que havia conteúdo impróprio para as donzelas.
Diante do que foi exposto sobre as cidades e a modernidade, percebemos as mudanças não só no comércio, mas nos hábitos de convivência e comportamentos, na vida social e urbanizada tanto na Parahyba do Norte como em Cajazeiras, o que fez com que as elites se apropriassem e vivenciassem os símbolos modernos em seu cotidiano.
REFERÊNCIAS:
LEITÃO, Deusdedit. Inventário do Tempo (memórias). João Pessoa: Empório do Tempo, 2000.
COSTA, Antonio de Assis. A(s) Cajazeiras que eu vi e onde vivi (memórias). Gráfica Progresso, João Pessoa, 1986.
ROLIM, Eliana de Sousa. Patrimônio Arquitetônico de Cajazeiras – PB: memórias, políticas públicas e educação patrimonial. Mestrado em Ensino de História e Saberes Históricos [Dissertação]. Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa, 2010.
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