Lembranças de Santa Umbelina
As lembranças do lugar emergem das memórias de menina quando meu pai falava de Santa Umbelina. O nome de santa, mas pouco usual, me evocava paisagens distantes e parentes que nunca conheci. Lá morou Joaquim Moreira, um dos doze filhos de Manoel Barbosa Moreira. Uma de suas filhas, Mariana Moreira de Figueiredo, é minha avó paterna. Outro irmão, Firmino Moreira, é meu bisavô materno.
Joaquim era casado com Maria. Não sei quando filhos tiveram e nem os conheci, mas apenas ouvi meu pai falar em uma prima, Sinhá Moreira, que morava em Uiraúna. Sinhá morreu centenária. Muitos de seus descendentes moram na cidade de Uiraúna e em outros municípios da região e preservam a relevância que a família construiu ao longo de gerações, chegando a ocupar cargos de projeção.
Não conheci Santa Umbelina, sei apenas que é uma comunidade de Uiraúna. Uiraúna conheci já adulta quando de minha atividade jornalística. A cidade se mostrou atraente, encravada na base de uma montanha e com a tradição de uma vocação cristã e musical. Nessas peregrinações profissionais conheci alguns parentes que moram na cidade como Chica de Odilon, filha de João Raimundo, Itamar Moreira Fernandes, que mais tarde torna-se prefeito de Poço Dantas, distrito que ganha à emancipação de Uiraúna no final do século passado.
O nome de Santa Umbelina, no entanto, permanece como uma evocação da infância quando, nas bocas de noite, na luz bruxuleante da lamparina, na sala de nossa casa em Impueiras, nos deitávamos no chão embaixo da rede de papai e ele contava a saga da família de seu avô Manoel Barbosa Moreira, cujos filhos habitaram diversas localidades da região. Dos que migraram para a região do Cipó, no final do século dezenove, trazendo a mãe Maria Moreira de Figueiredo, já viúva. Daqueles que casados, moravam em localidades como Sítio Várzea, Riacho, Segredo, em Sousa, Recreio, em Cajazeiras.
Dessas bocas de noite lembro meu pai falando da tristeza que sua mãe Mariana disse nunca ter abandonado sua mãe que, desterrada, morreu na ribeira do Cipó sem nunca mais retornar para sua querida Santo Antonio, no município de Sousa.
A evocação de Santa Umbelina, portanto, permanece como uma doce lembrança de infância. Talvez a realidade do lugar não corresponda às idealizações que dele construí em minhas fantasias de menina. O tempo também apagou ou modificou os mundos que idealizei em minha infância. Permanece apenas o sabor das histórias narradas por papai, as sombras projetadas pela luz da lamparina e a lembrança do ranger do armador que embalava sua rede enquanto, entre uma história e outra, ele entoava repentes e cânticos religiosos.
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