Leituras de férias
O dorso do livro destaca-se na estante. As várias marcas do tempo expressa em rasuras e estampas amareladas evidencia ser não apenas um livro antigo mais uma prazerosa leitura que se mostra em suas páginas impregnadas por cheiros e suspiros. Em cada frase e em cada lance da narrativa são revelados que, para cada leitor, um mundo de possibilidades e de invencionices foi tramado a revelia do propósito e da intencionalidade de seu autor.
Cato o livro para emprestá-lo a minha afilhada Niná buscando despertar nessa linda morena de buliçosos olhos negros e de inocentes sete anos o interesse pelo prazer de uma leitura com o tradicional gestual de passar a página lambendo o dedo. De experimentar a interrupção da leitura por uma motivação qualquer e marcar a página com uma pequena dobra. De suspender a leitura e deixar voar a imaginação criando mundos e inventando peripécias.
Reencontro-me com Carlos Drummond de Andrade e Ziraldo. Uma pequena obra infantil que traz, com a genialidade do mineiro de Itabira, e a vivacidade e inteligência no traço engraçado e fantástico de Ziraldo, a lição de amizade verdadeira a partir do encontro de uma pulga com um elefante. A história trabalha com a perspectiva de como o inesperado do evento aproxima o diverso e expressa possibilidades de superação de diferenças quando nos despimos da intransigência e da intolerância e nos abrimos para a vivência, ou melhor, a convivência sem as barreiras e peias que são construídas a partir do sexo, da crença, da cor da pele, da origem geográfica, da posição social.
Histórias de bichos que ganham vida e atributos humanos são comuns. Nossa infância está povoada por narrativas de cães, gatos, burros, sapos e tantos outros animais que adentram na seara humana e trançam histórias engraçadas. Essa a trajetória seguida pelo escritor e pelo ilustrador para nos deliciar com uma empolgante maneira de dizer que podemos mudar o mundo apenas com a forma de nossa imaginação e de nossa invenção criativa.
E na esteira das férias extemporâneas, além de Drummond e Ziraldo, duas leituras ocuparam meus parcos momentos de folga. Uma, o livro A Carne e o Sangue, da historiadora Mery Del Priore. Um interessante trabalho de pesquisa em correspondências que nos permite e nos presenteia uma instigante história dos bastidores e da intimidade do mais famoso triângulo amoroso da história brasileira: o romance entre Pedro I e a Marquesa de Santos no olhar da Imperatriz Dona Leopoldina. Uma boa trilha para quem se debruçam a conhecer mais amiúde a intimidade da realeza tupiniquim.
Outra leitura das férias foi o livro do jornalista cearense Lira Neto, Padre Cícero: poder, fé e guerra no sertão. Novas luzes sobre uma das mais inquietantes e nebulosas páginas da história sertaneja. Uma oportunidade para se conhecer como as trama entre fé e política vai muito além dos muros do Vaticano.
A propósito, o livro do Drummond e do Ziraldo é História de Dois Amores. Boa leitura.
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