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Radomécio Leite

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Lágrimas de sofrimento

27/05/2008 às 18h49

Não existe uma pessoa, que tenha sentimento, que não se emocione diante de uma lágrima derramada, mesmo que ela seja de alegria e quando ela escorre pela face provocada pelo dor e pelo sofrimento, sofremos e sentimos as mesmas angústias.

Na última edição do GAZETA, quando publicamos a matéria relativa à jovem de 15 anos e com sua fotografia sem a tarja, nos cercamos de todos os cuidados: ouvimos o Ministério Público, consultamos a lei que permite, mesmo sendo menor de idade, quando ela não for o agressor e ainda pedimos por escrito a autorização da mãe para a devida publicação.

A intenção da realização da matéria foi a de provocar no seio da sociedade cajazeirense uma discussão sobre as inúmeras agressões sexuais, físicas e morais que vêm sofrendo inúmeras meninas e meninos da periferia de Cajazeiras. Mas o debate da sociedade não foi em desfavor das violências de toda espécie que são praticadas contra os jovens, mas contra o órgão da imprensa que fez a denúncia, numa clara e violenta agressão contra a liberdade de expressão, amparada na constituição brasileira.

A semana que passou, na edição do GAZETA de nº 492, publicamos uma matéria talvez mais forte que esta da jovem que teve uma filha, cujo pai, é o seu próprio pai, mas como amenizamos na carga visual, a sociedade silenciou, a Câmara Municipal não se pronunciou e a totalidade ficou muda, calada, omissa. Os ditos defensores da moral e os guardiões da justiça social não tiverem sequer a dignidade de escrever uma só linha ou dar uma única palavra à reportagem que aborda a miséria e a fome que invadem os lares de nossa periferia.

Numa casa de um único vão, em piso de terra, terra molhada das chuvas que banham este sertão, dormem cinco crianças sobre um colchão úmido, numa rua que não tem saneamento básico e os esgotos escorrem a céu aberto. Mais grave ainda é a situação de uma família, cuja filha, de apenas seis anos de idade, dorme dentro de um velho carro quebrado, isto porque o seu casebre, em ruínas, não tem a mínima condição de abrigá-los numa noite de chuva.

Desamparadas, estas duas famílias e inúmeras outras clamam por ajuda da sociedade, imploram apoio para minorar as mazelas e constrangimentos porque passam estas crianças, expostas bem aos olhos de nossas autoridades, dos defensores dos direitos das crianças e dos adolescentes, mas que não foram sequer procuradas para oferecer uma solução e um apoio e se apareceram foi com intuito eleitoreiro e politiqueiro, uma outra forma de afrontar a pobreza e a inteligência do povo humilde e pobre de nossa periferia.

Em posições antagônicas, os injustiçados sofrem as intempéries do tempo, além da fome, desânimo, pobreza franciscana, desamor, crueldade e violência moral, enquanto, do outro lado, no centro da sociedade rolam debates e discussões através de microfones de emissoras de rádio e televisão, na tribuna da câmara, em ambientes perfumados, limpos, atapetados e com ar condicionado, onde os de “bom coração” defendem os humildes e necessitados, cujos resultados não aparecem. As palavras, como as gotas da chuva rolam pelo espaço sem encontrar respostas, sem razão objetiva.

Estas crianças, cujos estados, imploram amparo, mas os seus clamores parecem vozes do abandono, continuam ao relento e à margem da sociedade, mas que importa se suas vozes não ultrapassam os umbrais de suas misérias e jamais chegam a tocar na alma dos outros mortais, que vivem em jardins ondulados e cobertos de flores.

É difícil você se conter diante de tanta miséria, de tanta dor e sofrimento e mais ainda depois que vimos às lágrimas destas crianças descerem sobre suas faces, como gotas de sangue, a implorar a ajuda e se manter calado e se acovardar.

Estamos estranhando os ataques, mas faz parte da democracia. Defendemos o direito do contraditório, mas não concordamos com as injustiças e levantamos a nossa voz em defesa dos desamparados e podemos até entender que parte da sociedade que nos ataca, deve estar muito mais chocada e ofendida do que nós, ao ficar ferida de morte com os horrores que acontecem na periferia de nossa cidade e sem piedade prefere beber o seu chope e o seu uísque no “Bar dos Artistas”, do que buscar soluções.

Uma lágrima e outra lágrima rolam na face da sociedade e ela prefere o silêncio do nada e atirar pedras no alvo errado.

Radomécio Leite

Radomécio Leite

Contato: [email protected]

Radomécio Leite

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