Intolerância e burrice
Por Francisco Frassales Cartaxo – O movimento estudantil da Bahia era referência nacional, quer pela tradição, quer em função do avanço nos estudos dos problemas nacionais. A reforma universitária, uma das reformas de base, lá encontrou destacados mentores. Vivia-se em efervescência ideológica e política. Debates sérios ocorriam, também, nos parlamentos, na imprensa, em partidos políticos, legais e proscritos. Em meio a muita tensão social, formavam-se no Brasil instituições de intelectuais e organizações populares na cidade e no campo, como sindicatos e Ligas Camponeses. A repressão policial atuava forte, junto com milícias privadas, no combate ao comunismo. A propaganda, falsa ou não, corria mundo.
Nesse clima cheguei a Salvador em 1962.
Já no quarto ano de Direito, vindo do Ceará, onde fora diretor da União Estadual dos Estudantes. Tomei um choque. Varei noites para acompanhar o nível de meus colegas baianos. Devorara livros didáticos e coleções do ISEB. Celso Furtado, ministro de Jango, captou o clima de tensão social, fixando-o no livro A pré-revolução brasileira, tentativa de sair da crise, mantendo as conquistas democráticas.
A guerra ideológica contaminava tudo.
Eu militava na chamada esquerda independente, sem vinculação orgânica ao Partido Comunista nem à Juventude Universitária Católica (Ação Popular), que se aliava ora a um, ora a outro grupo. Na sala de aula havia um colega que sempre usava paletó e gravata. Circunspecto, era ver um professor. Por que tão formal? Ele pertencia à TFP – Tradição, Família e Propriedade, atuante agrupamento de extrema direita. Não se envolvia em greves ou qualquer movimento com rastro ideológico de esquerda. Compenetrado, erudito, com forte base filosófica seguia tudo com lentes próprias.
Élsior sabia o que eu pensava.
Eu expunha minhas ideias em jornais e revistas estudantis. E trocávamos figurinhas na cantina da Faculdade. Ele com sólidas convicções e eu com meus sonhos. Divergíamos, sem brigas ou xingamentos. Um respeitava o outro. Jamais usávamos de ironia, embora em nosso jeito de ser a tivéssemos presente…
Hoje suspiro de saudade daquela convivência adulta, madura, apesar de nossos verdes anos. Que tempo diferente! Agora se respira intolerância.
Élsior Moreira Alves virou professor da Faculdade. Bom mestre. Rigoroso educador. Foi presidente da Academia Baiana de Educação. Só esta semana soube de sua morte. E já se vão nove anos. Ah, como faz falta inteligência, diálogo entre contrários!
Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
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