Interiorização do desenvolvimento
É um filme que vi antes.
A nova equipe da área econômica do governador Ricardo Coutinho defende e prega que o desenvolvimento deve chegar ao interior do estado.
Seria muito bom que isto acontecesse e quando se fala em desenvolvimento vem longo a nossa mente o setor secundário da economia, ou seja, o industrial. Analisando o caso do município de Cajazeiras, que já foi objeto de várias tentativas, todas frustradas, de ser transformado num pólo industrial, vale algumas observações.
Para este intento foi destinado pelo governo do estado, há décadas, um grandioso terreno, com vários lotes, às margens da BR 230, com o objetivo de serem ali instaladas empresas industriais. Foi um fracasso retumbante. Roubaram/desviaram parte dos postes e fios que conduziam eletricidade para o local e parte destes lotes foram desviados para outras atividades.
O município nunca teve vocação industrial, afirmam alguns analistas e mostram que a grande vocação da cidade é eminentemente ligada ao setor de serviços e ao longo de sua história ficou mais do que evidenciado, nesta área, a educação e o comércio como molas propulsoras de seu crescimento.
Não devemos esquecer, ao estudar a História Econômica do Município, que o setor agrícola teve também um papel fundamental na construção dos alicerces desta cidade, tendo como principal item a cultura do algodão.
Foi o algodão, que a partir da década de 20 e posteriormente, num crescente, nas décadas seguintes, foi tão importante que possibilitou e foi responsável pela instalação da 99ª agência do Banco do Brasil, sendo a terceira a ser criada em todo o estado da Paraíba.
Mas o algodão foi também responsável pela construção do nosso aeroporto e da concessão de linhas áreas, cujas aeronaves, diariamente cruzavam os céus de nossa cidade. Mas bem antes das linhas aéreas já havia chegado o trem.
Foi o algodão também responsável pela construção e enriquecimento de várias famílias em nossa cidade, a exemplo do Coronel Peba, Major Galdino e os Matos de Sá, que foram também os pioneiros no processo de modernização da cidade.
O algodão foi também o responsável pela pujança do nosso comércio e mais ainda pela chegada dos maiores educadores do país, a exemplo dos Padres Salesianos e Irmãs Dorotéias.
Já se delineava na década de 10, que a prosperidade da cidade, via educação, resultado da semente plantada por Padre Rolim, nos idos de 1843, tinha futuro e para esta cidade, nos confins da Paraíba, já em 1915, era criada a nossa diocese, que este ano completa 100 anos de existência.
Mas será que o governo Ricardo Dois vai quebrar este paradigma e realmente promover o desenvolvimento do interior? Quantos da equipe econômica conhecem, por exemplo, onde fica a cidade de Cajazeiras, quais as suas potencialidades e para onde ela deve se desenvolver?
Qual a empresa que desejando se instalar em Cajazeiras vai poder suportar a ineficiência da Energisa que passa em média dois anos para efetuar uma ligação? E se precisar de uma quantidade maior de água, onde irá captá-la? E se os empresários precisarem realizar uma viagem rápida, sem perda de tempo, qual o aeroporto que vai embarcar e qual a empresa aérea que vai utilizar?
Será que a equipe econômica deste novo governo vai deixar os seus gabinetes para vir discutir com os mais diversos segmentos da sociedade do interior, qual a sua vocação econômica?
Outro dia eu falava para um amigo: se propaga tanto que o desenvolvimento vai vir para o interior, porque a continuação da duplicação da BR 230, não começa de Cajazeiras para Campina Grande?
O desenvolvimento econômico passaria necessariamente em dotar a cidade de um grande pólo na área de saúde; da construção de pelo menos duas mil casas populares, da conclusão do aeroporto e principalmente de incentivos fiscais para os que desejassem instalar indústrias em nossa cidade.
Como explorar a nossa riqueza mineral se não temos como transportar o minério de ferro das jazidas do Patamuté? Por onde andam as vozes do Congresso Nacional para defenderem a construção da Transnordestina?
Recentemente o governador Ricardo Coutinho reuniu em João Pessoa todos os governadores do Nordeste com a finalidade de traçar um plano para conseguir recursos junto ao governo federal. Este pacto nos remete à mesma situação: assim como nós do interior, que sobrevivemos nestes grotões e somos considerados os primos pobres do estado, o Nordeste é o “interior” do Brasil, que há séculos sofre a discriminação do governo central. Quando será que as disparidades entre o interior do país e o interior do estado vão deixar de existir?
A sociedade do interior espera que as palavras da equipe econômica do governo não tenha sido apenas uma bela oratória na festa da posse, mas as torne uma realidade.
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