Imagem de Epaminondas Braga
José Epaminondas Braga nasceu no mesmo dia, no mesmo mês, no mesmo ano em que veio ao mundo Celso Furtado. Completaria 93 anos em 26 de julho deste ano. Nesse dia, dez anos depois, era assassinado, aqui no Recife, o presidente João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. Coincidências, simples coincidências, mas Epaminondas as relembrava vez por outra quando jogávamos conversa fora, em encontros fortuitos ou programados. O último, programado, aconteceu no mês de outubro passado, em Campina Grande, quando fui visitá-lo. O papo já andava entremeado de pausas, de reticências, a memória traiçoeira a baralhar datas e nomes, episódios nublados no enfado do longo caminho percorrido. Naquele dia, ele fez questão de oferecer um café, quase almoço, supervisionado por Mércia, sua filha, a cuidar com desvelo e carinho do pai, desempenhando assim o papel de enfermeira e anjo.
Epaminondas era um homem preso a sua terra como poucos, embora tenha vivido muito tempo em Campina Grande, para onde foi em busca de ampliar seus negócios numa época de grande efervescência desenvolvimentista, a Rainha da Borborema transformada em polo comercial com ensaio de industrialização, a verdadeira capital econômica da Paraíba, já vestida no manto de centro de ensino regional. Epaminondas alcançou no alto da serra o merecido sucesso empresarial e se fez líder ao assumir formalmente o comando de entidades de classe. Nesse tempo, muita gente de raízes sertanejas deslocou-se para Campina, os Braga entre muitos. Poucos esqueceram suas origens. Epaminondas fazia questão de proclamá-las. E com que satisfação! Seus olhos miúdos e vivos a sair de órbita, um brilho forte quando o assunto era Cajazeiras. Certo dia, fizemos inveja a Tânia Bacelar. Isso mesmo, a economista Tânia Bacelar, considerada por muitos como herdeira de Celso Furtado, na capacidade de formular políticas públicas e estratégias regionais de desenvolvimento.
Conto como foi. Tânia e eu fomos a Campina Grande participar de evento da Regional Nordeste II, dos bispos católicos, ela escalada como conferencista. Lá encontro Epaminondas, firme, garboso, de terno e gravata. Entusiasmou-se ao ser apresentado à economista famosa, que ele conhecia apenas através da mídia. O miolo da conversa era Cajazeiras, cada um de nós mais animado com as novidades da terra. Tânia ali, quieta, meio espantada com aquela cena, duas gerações saltitantes, feito pinto em xerém, a irradiar o mesmo entusiasmo. Nascida e criada na praia de Boa Viagem, às margens do Capibaribe, Tânia é casada com um sertanejo de Sousa, Alcindo Rufino de Araújo, que, lamentavelmente, não cultiva o hábito de refazer as energias no calor do sertão… Daí seu espanto. Ela ficou impressionada com a vitalidade de Epaminondas e mais do que isso, com seu interesse por temas voltados para um futuro muito além de seus passos, ele já próximo do cimo da montanha, como diria o poeta Cristiano Cartaxo.
Epaminondas e Celso têm o mesmo signo, mas são muito diferentes. Celso confessou-se um cacto, talvez na lembrança de Pombal, onde nasceu. Epaminondas em nada parecia com um cacto, expansivo, jovial, mesmo quando, tendo vencido a barreira dos 90 anos, carecia dos cuidados diuturnos de Mércia, sua filha, mais anjo do que enfermeira, a misturar-se agora na última imagem que guardo de seu pai.
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