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José Anchieta

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Homem de Deus, homem da Igreja

01/01/2008 às 21h14

As homenagens póstumas são válidas e, por vezes, bem merecidas. Contudo, prefiro fazê-las aos vivos. Aos mortos, o devido repouso. A história por vezes é injusta, e as crônicas feitas ao final de uma vida correm o risco de serem exageradas ou omissas. As compostas no tempo certo são mais justas, pelo fato de serem mais objetivas, porém não menos carregadas de sentimentos de gratidão e afeto por aquele que é o “alvo” das nossas homenagens.

Quero, neste artigo que a Revista da FELC dá a honra de publicar, falar sobre um padre de nossa cidade, com raízes eminentemente “quixabanas” e que merece toda a consideração, respeito e carinho dos uiraunenses. Falo do Pe. Gervásio Fernandes de Queiroga, meu pai, meu irmão, meu superior. Pelo fato de estar conosco, creio que é momento de exaltar aqui sua história e algumas de suas virtudes.

Gervásio Fernandes de Queiroga nasceu na cidade de Uiraúna, no dia 19 de junho de 1934, de João Adelino de Queiroga e de Ana Fernandes de Queiroga (Ana Fernandes Moreira, nome de solteira). O nono de uma prole de onze filhos, o Pe. Gervásio logo sentiu o chamado de Deus para a vida sacerdotal. Aos doze anos e dez meses ingressou no Seminário Arquidiocesano da Paraíba, de onde saiu para estudar Filosofia e Teologia em Roma, no ano de 1952. Lá, obteve os títulos de “mestre” nestas duas áreas do saber. De volta ao Brasil, foi ordenado sacerdote aos 26 de julho de 1961, sendo professor e formador no Seminário Nossa Senhora da Assunção e em outubro também nomeado assistente eclesiástico dos movimentos juvenis da Ação Católica Brasileira.

Teve a graça de, logo no ano seguinte, participar da 1ª sessão do Concílio Vaticano II, na qualidade de assessor de D. Zacarias Rolim de Moura, então bispo de Cajazeiras. Por ordem do bispo, ajudou na fundação da Frente Agrária, que seria posteriormente o Sindicato dos Trabalhadores Rurais.

Foi nomeado coordenador diocesano de pastoral, num período bastante conturbado na política brasileira: a época do governo militar. Com a renovação pós-conciliar da Igreja, recebeu a incumbência de percorrer as paróquias da diocese de Cajazeiras, fazendo tríduos litúrgico-catequéticos, a fim de preparar o povo para as salutares mudanças que já estavam em andamento na Igreja no mundo inteiro.

Em 1966, com a inauguração da Rádio Alto-Piranhas, começou a atuar na programação sócio-religiosa da emissora diocesana, setor em que ainda hoje atua. Foi professor fundador da Faculdade de Filosofia de Cajazeiras e da Faculdade de Direito de Sousa. Nesta última, onde lecionou de 1970 a 1992, formou-se em Ciências Jurídicas , recebendo o diploma, em janeiro de 1980.

No ano de 1973, foi para Roma mais uma vez, doutorando-se em Direito Canônico. Retornou em 1976 e foi nomeado pároco da catedral de Cajazeiras, onde ficou até o ano de 1979. Neste ano, transferiu-se para Patos, onde, pelo bispo local foi nomeado coordenador diocesano de pastoral, assistente eclesiástico dos cursilhos de cristandade e programador religioso da Rádio Espinharas. Em 1984, foi solicitado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil para ser consultor jurídico-canônico da presidência daquela instituição, cargo que ocupou por 21 anos, até 2004.

Em 1985, fundou o Instituto Jesus Missionário dos Pobres, ramo inicial da Sociedade Missionária para a Evangelização dos Pobres, erigido canonicamente em 31 de maio de 1987, por Dom Nivaldo Monte, arcebispo de Natal, na mesma data em que inaugurava a primeira casa de inserção e de formação do Instituto. Na capital potiguar, lecionou na UFRN entre 1987 a 1990. Neste ano, com a nomeação de D. Matias Patrício de Macedo para a diocese de Cajazeiras, decidiu retornar à sua diocese de origem, sendo nomeado novamente coordenador diocesano da pastoral. Em prédio cedido pela diocese, sediou nessa cidade a casa de formação do Instituto Jesus Missionário dos Pobres, onde deu continuidade à formação dos seus seminaristas.

Aos 75 aos de idade, é ainda bem atuante à frente do dito Instituto, dividindo seu tempo entre o Ceará e a Paraíba. Em plena atividade, em 2008 é professor de Teologia, na Faculdade Católica Rainha do Sertão (Quixadá-CE) e de Direito, na Faculdade de Filosofia de Cajazeiras (PB).

Eis a história. Agora, vamos ao homem.

Quem é o Pe. Gervásio? Desconhecido de muitos, inclusive em Cajazeiras, pelas suas andanças, nosso padre é, em primeiríssimo lugar, uma pessoa que se destaca pela sua ilibada conduta moral. Como poucos no mundo, Pe. Gervásio é de uma austeridade e de uma coerência únicas, motivos que me permitem dizer que é um Homem, no sentido integral do termo. Além do que, é um homem de Deus.

Tenho a honra de conviver ele desde o ano de 1993, quando comecei a freqüentar o Seminário Jesus Libertador (casa de formação do nosso Instituto), em Cajazeiras. Nunca encontrei nele algo que o desabonasse como sacerdote e como cidadão. É um homem de Deus. E justamente porque homem de Deus, é homem dos outros, realmente um “alther Chriti” (um outro Cristo), como o próprio Jesus exige de nós, sacerdotes.

A vida do Pe. Gervásio, desde que o conheço, é uma vida voltada para os outros. Foi professor de direito civil na faculdade de Sousa, está aposentado, tem uma boa aposentadoria, é verdade, mas tudo o que recebe é destinado à formação de seus seminaristas. Nunca, nestes 14 anos, o vi comprar uma camisa para si. Por suas mãos, através do Instituto de Filosofia “Verdade e Vida”, já passaram mais de 40 sacerdotes de diversas dioceses do Nordeste.

Como poucos, sua rigidez chega a assustar a quem não o conhece. Duro na disciplina é, contudo, afável no convívio. Sua ironia leva sempre ao riso e quase todos os que são “vítimas” de suas brincadeiras saem daí com a impressão de que estão perto de um bom homem, de um homem de Deus, de um homem a serviço de todos.

Porque homem, homem de Deus e homens dos outros, não poderia deixar de ser um “homem da Igreja”. Ama apaixonadamente a Santa Mãe, a quem compreende por dentro, em suas mais diversas estruturas, desde a capelinha lá do interior, até as altas rodas eclesiais vaticanas (fora indicado, certa vez, para trabalhar na Secretaria de Estado do Vaticano, honra declinada por ele mesmo).

Da Quixaba para o mundo, eis um exemplo a ser conhecido e seguido. Homem de Deus, homem da Igreja, homem a serviço dos outros. Agradeço a honra que Deus me deu de conviver intimamente, como filho seu e como irmão no sacerdócio.

Salve, filho ilustre de Uiraúna! Nossa homenagem, nossa gratidão filial!


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

José Anchieta

José Anchieta

Redator do Jornal Gazeta do Alto Piranhas, Radialista, Professor formado em Letras pela UFPB.

Contato: [email protected]

José Anchieta

José Anchieta

Redator do Jornal Gazeta do Alto Piranhas, Radialista, Professor formado em Letras pela UFPB.

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