Ferrovias do descaso
Anunciado com pompas, mas visto com desconfiança, o Novo Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal foi recentemente apresentado como um amontoado de programas que prevê investimentos na ordem de 1,7 trilhão nos próximos quatro anos contemplando obras em todos estados do país com recursos oriundos da União, iniciativa privada e o restante por meio de empréstimos. O Novo PAC lastreado em parcerias com empresas privadas, estados, municípios e movimentos sociais e será destinado a novos projetos estruturantes nas áreas de infraestrutura, moradia, saúde, educação, obras já em andamento e à retomada de obras inacabadas.
Além de não explicar e nem definir claramente de onde vai tirar essa fabula de quase R$ 2 Trilhões para executar essas obras, o Novo PAC do governo Lula 3 não tem nada de novo, é sim, uma rara oportunidade que o presidente ganhou para cumprir promessas antigas concluindo obras inacabadas de governos anteriores e dele mesmo, que ficaram pelo caminho nos seus dois primeiros mandatos que deixaram para trás um rastro de descaso, inoperância e desperdício de dinheiro público.
Na área de logística que envolve pesados investimentos em projetos estratégicos serão contemplados portos, metrôs, hidrovias, rodovias, aeroportos, somente no setor de ferrovias estão previstos quase R$ 100 bilhões para ampliar e modernizar a malha ferroviária brasileira.
Sepultado pelo Plano de Metas do presidente Juscelino Kubitschek, que previa desenvolver o país 50 anos em apenas 5, em meados dos anos 1950, o modal ferroviário brasileiro foi literalmente abandonado e esquecido com a priorização do “rodoviarismo” que via na indústria automobilística e no transporte rodoviário um vetor desenvolvimentista imprescindível para deslanchar o inadiável processo de industrialização do país na segunda metade do século passado. A visão futurista de Juscelino ao eleger o “rodoviarismo” como nosso principal modal de transporte, apesar de uma decisão acertada na época, para alavancar o nosso desenvolvimento criou inexplicavelmente uma espécie de cultura “antiferroviária” na sociedade e dentro dos governos subsequentes a JK, passando pelo governo da revolução que perdura até os dias de hoje.
Claro que não era necessário ser especialista para entender que, a longo prazo, não daria certo concentrar toda a logística de transporte apenas no modal rodoviário num país com a quinta maior extensão do planeta. Hoje o Brasil perde competitividade interna e externa no transporte por caminhões devido aos desperdícios nos longos trajetos e aos crescentes custos do transporte encarecendo na ponta o preço final dos produtos. A proposta do Novo PAC ferroviário é ambiciosa: implantar mais de 5000 km de ferrovias, dobrar de 20% para 40% toda carga transportada sobre trilhos no Brasil até 2035 com uma espantosa redução de 40% no custo do frete.
Será para quem esperou 36 anos para ver concluídos os 2,257 quilômetros da Ferrovia Norte-Sul, a ferrovia do Sarney, e ainda hoje assiste a construção dos 1,752 quilômetros da Transnordestina se arrastar por 17 anos sem previsão de conclusão, pode acreditar que finalmente o Brasil vai entrar nos trilhos? Acredito que não. Mesmo com essa dinheirama toda, sem planejamento, gestão, projetos bem elaborados e um novo modelo governança pública, literalmente, o Brasil não vai sair da estrada.
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