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Edivan Rodrigues

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Eudes Cartaxo, com saudade

20/07/2009 às 15h18

Por Francisco Cartaxo

Cajazeiras deixou de vê-lo em andanças pelo centro da cidade. Quarta-feira, dia 15, ainda viu passar seu corpo a caminho do cemitério. Mas não em seu passo ligeiro, tendo ou não motivos para a pressa. Ia e vinha. Entrava na casa da Avenida João Pessoa e saia feito um pássaro que vai ao ninho, confere se está tudo em ordem, e volta ao mundo. O mundo de Eudes Cartaxo era a esquina, o café, o calçadão da Tenente Sabino. E o lar. Ou a Coletoria estadual ou o Rotary ou o velho PSD. E as notícias relacionadas com o sertão do Rio do Peixe. De preferência, notícias dos amigos. Que eram muitos.

Algumas amizades foram simbólicas. Os mais velhos sabem de sua dedicação a Otacílio Jurema, sobretudo, nos derradeiros anos de vida, quando o político de maior prestígio em Cajazeiras, no período que vai da Revolução de 30 ao golpe de 64, recolheu-se ao ostracismo em seu casarão, no meio aos cães de estimação. E longe dos homens. Em 1982, Eudes me levou à presença de Otacílio, de quem escutei sinceras avaliações políticas e úteis conselhos, perdido que andava, na única aventura eleitoral de minha vida partidária.

Apesar do sobrenome igual, não somos parente próximos. A origem porém é a mesma. Eudes descende em linha direta do tenente-coronel da Guarda Nacional, Emílio Emiliano do Couto Cartaxo, e eu de um de seus 12 irmãos, José Antônio do Couto Cartaxo, pai de minha avó Ana Antônia do Couto Cartaxo – Mãe Nanzinha. Portanto, o (bisavô de Eudes?) coronel Emílio Emiliano, falecido em 1907, era tio de Mãe Nanzinha, minha avó que, viúva, casou com o major Higino Rolim.

O coronel Emílio Emiliano do Couto Cartaxo (que era sogro do coronel Joaquim Matos) exerceu funções relevantes, ainda no Império, e inicio da República: vereador, presidente do Conselho Municipal, delegado de polícia, suplente de juiz. Elegeu-se deputado estadual, em 1900, na chapa de Epitácio Pessoa, mas foi “degolado” pelo poder então controlado por Álvaro Machado, em cuja chapa havia outro cajazeirense, o bacharel Bonifácio Moura, pai de dom Zacarias Rolim de Moura. Eudes descende, portanto, da vertente mais política dos Cartaxo, que abriga o destacado líder: Antônio Joaquim do Couto Cartaxo, o primeiro juiz de direito da comarca e também o primeiro deputado federal de Cajazeiras, membro que foi da Constituinte de 1891-1892. O segundo deputado federal cajazeirense, Ivan Bichara Sobreira, eleito em 1954, ou seja, 63 anos depois!

Eudes foi fiel aos amigos. E ao velho PSD de Ruy Carneiro. Daí as perseguições sofridas, removido para distantes cidades, após a vitória de Pedro Gondim, em 1960, na histórica rebeldia do: “Está com medo? Não, estou com Pedro. O homem é Pedro”.

Guardo de Eudes imagem de suavidade, a saudação cordial. Até pouco tempo, ao encontrá-lo, antes do abraço vinha pergunta: “E o nosso senador?” Assim tratava Sabino Rolim Guimarães, o pai, com quem mantinha amizade sincera. Talvez hoje, Eudes não mais o saudasse daquele jeito, tal o grau de desprestígio a que reduziram o senado da República. Cajazeiras não mais o verá em seu passo ligeiro pelas ruas do centro. Por isso, faço este registro, com saudade.

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

Contato: [email protected]

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

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