Entre o ufanismo míope e a sensatez necessária
A cidade mais uma vez se agita. Em todas as direções e em todas as dimensões, com raríssimas exceções, e, independente de posição e de convicção ideológica, social, religiosa, cultural, sexual, todos se homogeneízam em torno da mesma extremidade. As vozes parecem convergir para um mesmo foco. A unanimidade da defesa arremessa para o limbo da ingratidão e do retrógado quem ousa colocar uma pitada de coerência e sensatez neste debate. Afinal, quem, em sã consciência, não defende a criação da Universidade do Sertão, sobretudo, quem é de Cajazeiras, ou por esta terra nutre simpatia e afeto e que suspende a medida à condição de alavanca de progresso e futuro promissor?
O que o debate sensato exige é ponderação e serenidade para que interesses políticos mais paroquiais e pessoais não se sobreponham sobre as necessidades e possibilidades concretas de ampliação do sistema público de educação superior na região.
Uma questão se faz imperativa neste debate e que, infelizmente, não aparece e não ganha a relevância nos discursos e posições de quem aguerridamente se apega a defesa da criação da Universidade do Sertão. A questão é: vamos criar uma Universidade do Sertão, vinculada ao sistema federal de ensino superior? Ou vamos apenas repartir o que está aí, dando nova designação a um pedaço do que, atualmente, já é um pedaço do que, outrora, era a quarta maior universidade federal do país?
A divisão da atual UFCG, com a aglomeração de alguns Campi para a composição da Universidade do Sertão, não representa ganho político e acadêmico nenhum. Ao contrário, fragiliza e desqualifica o que, atualmente, vem tentando se organizar enquanto instituição universitária. Como convivemos e vivenciamos esse processo de divisão, somos testemunhas dos problemas burocráticos, administrativos e financeiros que acompanharam todo o processo de organização da UFCG, considerando que ocorreu apenas a divisão do orçamento que antes era da UFPB, para dar cobertura as duas instituições, sem considerar que a “nova” universidade carecia de recursos financeiros e humanos para montar toda sua estrutura burocrática, e que não estavam orçados nas planilhas e nas intencionalidades governamentais. A situação não foi mais dramática porque vivemos o período do Governo Lula e de toda uma política de expansão do ensino superior público do país, que amenizou alguns dos dramas e traumas da divisão. Mas esta foi uma situação histórica contingencial e cuja repetição não goza de segurança.
Agora, novamente se arvoram inúmeras vozes que se perfilam na defesa da criação da Universidade do Sertão a partir do desmembramento e da divisão da Universidade Federal de Campina Grande. Os argumentos vão do ufanismo míope e inconsequente ao velado interesse político pessoal de se anunciar e de evocar a paternidade do feito para barganhar dividendos eleitoreiros.
Carecemos de serenidade para não repetir velhos equívocos. E para aqueles que acham minha posição retrógada, antecipadamente, já aviso: sou radicalmente favorável a criação da Universidade Federal do Sertão, desde que isso não represente a divisão da UFCG. Que, de fato, seja criada uma nova Universidade Federal no Estado. E aí teremos ganhos significativos, com mais vagas docentes e de técnicos administrativos, mais vagas para ingresso de alunos e, com certeza, o fortalecimento de Cajazeiras e da região como importante espaço e centro de ensino.
Essa pode ser uma importante trincheira de luta. Quem engrossa essa fileira?
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
Leia mais notícias no www.diariodosertao.com.br/colunistas, siga nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram e veja nossos vídeos no Play Diário. Envie informações à Redação pelo WhatsApp (83) 99157-2802.
Deixe seu comentário