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Radomécio Leite

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Do alto da torre da catedral

05/06/2010 às 15h38

A majestosa Catedral de Nossa Senhora da Piedade tem uma torre de 45 metros de altura e do seu alto dá para contemplar toda a cidade de Cajazeiras.

Quem esteve há sessenta anos atrás, ao voltar hoje ao seu topo, verá o quanto a cidade de Cajazeiras cresceu e juntos vieram às mazelas, as perdas, as conquistas.

Do alto lanço um olhar para o leste e vejo que o trem não mais existe e que o seu apito já não tira a atenção dos que oravam em seu interior; vejo ainda que a beleza natural do morro onde foi erigida a Estátua do Cristo Redentor, inaugurada em 1939, desapareceu e ficou perdida entre um emaranhado de antenas e no seu sopé se ergueu uma favela e as grandiosas caixas para receber as águas que vêm do Açude de Boqueirão de Piranhas e que continuam sendo insuficientes para abastecer os habitantes da cidade.

Ao sul, vislumbro a BR-230 que contorna o perímetro urbano e que hoje, pelo crescimento da cidade, já está atrapalhando a implantação de projetos habitacionais, a exemplo dos 1024 apartamentos que seriam construídos com recursos da Caixa Econômica Federal, mas por falta de infra-estrutura, como via de acesso, contornos, esgotamento sanitário e abastecimento d´

Água ficamos só na esperança.

Ainda ao sul fica o lixão da cidade, que já foi um aterro sanitário, orgulho para a cidade, por ser apenas três em toda a Paraíba a possuir este importante equipamento. O lixo é e será sempre um grande problema para nossos administradores. Nesta zona da cidade, para aumentar mais ainda as questões urbanas, surgiu uma enorme favela, conhecida como Campo do Vaqueiro, a partir da invasão de um loteamento e hoje se constitui como um dos mais sérios problemas sociais de nossa urbe.

Ao se voltar para o norte vejo a Avenida José Donato Braga, conhecida como Estrada do Amor (esta denominação foi porque na época em que foi aberta a cidade não tinha ainda motéis e muitos a utilizava para fazer amor dentro de seus veículos por ser quase deserta) e passado cerca de 13 anos ainda não foi sequer colocado um único palmo de asfalto, depois de inúmeras promessas e juras de nossos políticos.

Ao leste, onde o sol se põe refletindo seus raios nas águas do poético Açude Grande, transformando este momento numa rara beleza da natureza, infelizmente, este espetáculo, esconde uma triste realidade que vive este manancial de mais de dois milhões e meio de metros cúbicos d´água, que nos últimos 50 anos se transformou numa grande cloaca. A água armazenada por este açude, desde o ano de 1800, até 1964, matou a sede do povo de Cajazeiras, hoje está poluído e imprestável para o consumo humano. Uma lástima e ao mesmo tempo um luxo se ter um volume de água deste porte servindo apenas de embelezamento, quando nos dias atuais muitas comunidades rurais estão tendo sérias dificuldades para ter água para beber.

Depois do açude, às margens da BR-230, uma esperança: o novo aeroporto, uma promessa de 11 anos, que já chega acompanhada de outra: a do retorno da linha aérea que perdemos na década de 60. Será que 50 anos depois, mais de uma geração, vamos reconquistar o que perdemos?

Cajazeiras viveu, ao longo da década de sessenta e inicio da de setenta, um longo período de retrocesso e de perdas: primeiro foi o trem, depois o avião, as safras e as usinas de algodão, símbolos de nossa riqueza, a concessionária chevrolet, os padres Salesianos e as Irmãs Dorotéias que educaram gerações, além da pouca representatividade política a níveis estadual e federal. Teria sido o nosso “período de trevas”?

Estes fatos podem ter contribuído para a baixa estima de muitos cajazeirenses e a pouca disposição de luta para a reconquista destes empreendimentos e destes valores imensuráveis. Em 1972, recém licenciado em História, escrevi uma série de artigos com o titulo “Cajazeiras, cidade do já teve”, que irritou várias lideranças políticas da cidade, acompanhado de uma observação: “esse menino mal chegou a Cajazeiras e já está querendo denegrir a imagem da cidade”?

Neste mundo globalizado em que vivemos quem domina é a lei de mercado e como o nosso peso representa menos que uma pena de um sabiá, imagine quantas lutas teremos que enfrentar para a reconquista de tudo que perdemos, além de agregar novas lutas em outras fronteiras.

Radomécio Leite

Radomécio Leite

Contato: [email protected]

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