Democracia faz de conta
Por Alexandre Costa – A escalada de protestos contra o farsesco pleito eleitoral na Venezuela chamou a atenção da comunidade internacional para os previsíveis desdobramentos que desembocariam na consolidação de mais um regime ditatorial na América Latina. O que se esperar da lisura de uma eleição presidencial onde o disputante, no poder, inabilita, prende e tortura seus principais opositores, controla e manipula a Justiça Eleitoral do país e ainda por cima manda fechar todas as suas fronteiras com os países vizinhos? Evidentemente que nada.
Essa é a consagrada nova cartilha que vem sendo fielmente seguida por regimes ditatoriais do século XXI, a chamada “democracia faz de conta”, que reza que se pode perpetuar no poder sem dar golpe de estado, quarteladas, tanques e baionetas apenas manipulando eleições, utilizando processos judiciais de fachada além de cooptar “apoio” de cúpulas internacionais. São essas democracias fazem de conta que gestaram e consolidaram Nicolas Maduro, o mais novo déspota latino-americano.
Obvio que com um histórico desse, o mundo já sabia antecipadamente o resultado das eleições do último domingo na Venezuela: Maduro presidente. “Eleito” com 51% dos votos num pleito eivado de irregularidades entre elas a não divulgação das atas de votação de cada seção eleitoral, fato que provocou uma forte reação da Organização dos Estados Americanos (OEA), União Europeia (EU) e ao menos 18 países que não reconheceram o resultado das eleições. Apenas países de governos ditatoriais como a China, Rússia, Coreia do Norte, Irã e Nicarágua reconheceram de imediato a eleição de Maduro.
E o Brasil, hein? Recebido com pompas aqui no Brasil, no ano passado, com direito a um tapete vermelho estendido por Lula, Maduro causou um vexame diplomático numa reunião de líderes sul-americanos gerando uma forte insatisfação de parte da esquerda da América Latina e órgãos de internacionais como a ONU, Anistia Internacional, que o vê como um ditador sanguinário. Lula, numa deslavada passada de pano, saiu em defesa do autocrata venezuelano dizendo que “os adversários deveriam pedir desculpas pelos estragos causados à Venezuela”.
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A lua de mel durou pouco. Nas vésperas da eleição, Maduro mandou Lula tomar chá de camomila depois que o brasileiro se disse assustado com as declarações de Maduro que ameaçava um banho de sangue na Venezuela caso derrotado nas eleições. O estremecimento final veio com as críticas de Maduro ao levantar suspeitas sobre a lisura do processo eleitoral brasileiro com uma acusação gravíssima que põe o dedo na ferida que é exatamente o ponto nevrálgico da polarização politica brasileira: a suspeição da lisura no nosso processo eleitoral.
Cinco dias após o pleito, o governo brasileiro ainda vacila numa vergonhosa posição dúbia, entre não reconhecer e também em não rechaçar o novo governo Maduro, enxovalhando a história da respeitadíssima diplomacia brasileira.
Ao relativizar a manipulação e fraude na eleição venezuelana classificando como normal e tranquila Lula sinaliza que vai reconhecer a vitória do ditador Maduro, uma afronta aos países verdadeiramente democráticos que abre caminho no tabuleiro geopolítico global para tornar o Brasil um pária internacional.
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