Contra o mau gosto, mãos à arte
Por Gildemar Pontes
Tenho andado por muitas plagas e constatado com apreensão e desconforto a imposição de uma estética musical de mau gosto, digo assim para ser levemente crítico. Por mais que se estude e se forme um padrão de intelectualidade e afinação do espírito, como queria o poeta e filósofo alemão Friedrich Schiller, a indústria cultural cultua apenas o lucro.
Não se pense que, por ter o nome de cultural, uma indústria que participa da fabricação de produtos destinados ao consumo, com o rótulo de cultura, vá se preocupar com a formação crítica da população. O que se vê e se ouve são produtos alienantes. Chego a brincar com os mais próximos, dizendo que, no ritmo alucinante de estupidificação em que nos encontramos não tardará e alguns, menos favorecidos de massa cinzenta e proteína, terão a ingrata surpresa de acordar e sentir algo se mexendo no final da coluna vertebral, nas imediações do cócix, um formoso rabo. Sim, em princípio um rabo parecido com o dos símios, nossos modelos mais antigos e próximos do homem que continuam brincando nas árvores.
Os educadores estão parvos sem saber o quê? e como fazer? para minimizar os problemas que atormentam pais e professores. A escola como aparelho ideológico do estado, como pensou Althusser, não consegue dar as respostas imediatas, limitando-se a promover programas educacionais muitas vezes completamente distantes da realidade em que está inserida a escola. Não podemos nem devemos esperar pelos poderes públicos. A sociedade civil organizada deve intervir com urgência na construção de alternativas a esse modelo cultural que se impõe via mídias à população. O professor não pode mais se conformar com as circunstâncias adversas do seu trabalho e ignorar a gravidade do problema. O poder judiciário não pode apenas ordenar de gabinetes ações repressivas ao crime e ao que julga errôneo sem pensar as causas diretas e indiretas da desordem social. Não falo em censura ao lixo que toca nas rádios e nos programas aberrantes de tv. Falo em medidas que podem ser tomadas para oferecer alternativas saudáveis à formação educacional e cultural de crianças e jovens. Uma proposta simples que pode ser encampada por todos seria convidar os setores envolvidos na promoção da educação e da cultura, junto aos poderes públicos e os setores de aporte à educação para um Seminário propositivo de ações emergentes em favor da saúde ética, moral, intelectual e física das crianças e adolescentes. Sem isso nosso futuro estará condenado à barbárie. Ninguém quer pagar pra ver, não é mesmo?
Nesse sentido, elaborei um plano cultural para a escola pública chamado Mãos à Arte, em alusão inversa ao “Mãos ao alto”, que é comum no meio da marginália. Esse plano foi acatado pela Secretaria de Educação de Cajazeiras e irá começar suas ações em maio. Trocando em miúdos, o Mãos à Arte consiste em oferecer o complemento educacional dos alunos através das diversas modalidades artísticas e esportivas. Demos o primeiro passo. Oxalá possamos caminhar juntos! Todos os que querem o bem de hoje e o conforto do amanhã estão intimados, esse é o termo, a ajudar na construção de uma sociedade mais fraterna, justa e valorizando a arte como suporte espiritual para tornar o homem um cidadão integral. Não dá para esperar pela fome, a violência, a droga e o mau gosto que se disseminam na juventude sem olhar para dentro de casa, para os filhos e por nós, que ainda podemos sonhar com um mundo melhor para eles.
Não espere ouvir “Mãos ao alto”, venha ser parceiro do Mãos à Arte.
*Escritor, Professor da UFCG, Presidente do Conselho Municipal de Cultura, Editor da Revista Acauã.
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