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Francisco Cartaxo

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Conselho de doutor Waldemar

15/12/2023 às 20h01

Coluna de Francisco Frassales Cartaxo - na foto, Valdemar Pires Ferreira - reprodução/internet

Por Francisco Frassales Cartaxo – Cheguei a Cajazeiras todo ancho, após passar no vestibular, nem bem concluíra o científico e o curso de Preparação de Oficiais da Reserva. Era aspirante a oficial do Exército e “acadêmico”, o prestígio inversamente proporcional aos poucos estudantes que logravam entrar em faculdades, sobretudo, de João Pessoa, Recife ou Fortaleza. Contavam-se nos dedos, motivo de vaidade para a pequenina Cajazeiras dos anos 50, começo dos 60.

Só festa, parabéns e cana!

Nem tanto para mim. Ao amanhecer do segundo dia em Cajazeiras, antes da primeira micção resvalou uma gota. Puta-que-pariu, a gota do estraga prazer! Sua presença logo se revelou também em manchas na cueca. Lá se foi o mundo da alegria, da farra, do gozo. A maneira de interromper a progressão da doença era uma só: Benzetacil, injeção à base de penicilina, vendida num frasquinho com o pó que, diluído n’água, era empurrado braço adentro, a dor quase incontrolável! Como obter e usar sem meu pai saber?

Doutor Waldemar me salvou.

Entrei no consultório, na Avenida Presidente João Pessoa, onde, em outros tempos, existiu a farmácia de nosso avô, o major Higino Rolim. Eu mais parecia um amancebado indo ajoelhar-me aos pés de Frei Damião, após ouvir o terrível sermão do fogo eterno no inferno! A vergonha exposta na voz trêmula, na inquietude das mãos.

– Olá, Frassales, ontem seu pai esteve na casa de mamãe, orgulhoso do filho acadêmico, parabéns!

– Pois é, doutor Waldemar, vim aqui… quer dizer, procurei o senhor… não quero estragar a felicidade do velho, o senhor sabe…

– Estragar… qual é o problema? É tão grave assim?

– É que amanheci hoje, de manhã cedo vi… quer dizer, azar né, estou com blenorragia, sabe como é, em Fortaleza…

Waldemar não riu nem fez cara de reprovação. Muito menos bancou o padre no púlpito. Explicou com voz da sabedoria, ele que era o mais estudioso de todos os médicos de Cajazeiras, naquele tempo, falou da origem imemorial das doenças venéreas, transmissíveis pela falta de cuidados sanitários do poder público e das pessoas, deixando as pobres raparigas lançadas à própria ignorância, no afã de sobreviver. Atento, ouvi. E vi a receita, a amostra grátis da ansiada injeção!

– Não vá à farmácia de Marechal, Cartaxo sempre anda lá. Em Aldo tem um rapaz discreto, muito discreto.

Com a mão no meu ombro, falou o pai mais do que o primo:

– Dê repouso ao órgão, é o melhor remédio, repouso ao órgão.

Meus vinte anos gravaram o sábio conselho.

Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

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Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

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