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Adjamilton Pereira

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As bodas e as bananas

01/03/2013 às 13h10

 

As celebrações do jubileu de prata da paróquia de Cachoeira dos Índios fizeram ressurgir lembranças de infância quando Madrinha Zefinha, irmã mais velha de meu pai e que nunca se casou, chegava a nossa casa, em Impueiras, solicitando a minha mãe a minha companhia para ir a Cachoeira dos Índios para as celebrações religiosas das primeiras sextas-feiras. Invadia-me um misto de alegria e decepção. Alegria porque ia passear, visitar a cidade, ver caras diferentes e assistir aos rituais religiosos cuja magia e mistério sempre me fascinaram. Decepção porque Madrinha Zefinha sempre parava na bodega de Zé Feitosa, no Sítio Bamburral, para beber uma bicada de Cinzano e mandava o bodegueiro me dar uma banana babona. As bananas da bodega de Zé Feitosa sempre estavam bastante amadurecidas, com um aspecto já enegrecido e leitoso. E mais, banana babona era uma fruta que tínhamos com relativa abundância em nossa casa de Impueiras. Meu interesse infantil estava voltado para o que era novidade, como um bombom, alguns biscoitos. Mas sempre recebia de Madrinha Zefinha a oferta das bananas passadas de Zé Feitosa.

A revelia das frustrações, sempre me fascinava as missas da primeira sexta-feira na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Cachoeira dos Índios. Um percurso que sempre fazíamos a pé e cujo cansaço se manifestava na viagem de retorno quando nosso destino final parecia mais esticado. Também causava ansiedade e expectativa as missas de Natal e as missões de Frei Damião que vínhamos assistir em Catingueira, nome da antiga vila e que permaneceu na memória e na designação dos mais antigos. Em muitos desses momentos, papai fazia malabarismos e reservava algum valor monetário para comprar pão, ou “pão da rua”, como chamávamos, com algumas unidades fatiadas por mamãe e que eram avidamente degustadas por nós, quando do retorno para casa. O restante era reservado para as merenda do dia seguinte, o que nos causava alegria e tranquilidade por não termos que acordar no quebrar da barra para moer o milho destinado ao preparo do cuscuz ou da farinha.

No altar, sem o auxílio dos recursos que a tecnologia proporciona, como microfones, caixas amplificadoras, ouvíamos atentamente as homilias anunciadas pela voz mansa de Mons Abdon Pereira, o sotaque carregado e, em alguns momentos, inteligível do italiano Padre Mauro, o jeito extrovertido e comunicativo do Padre Levi, a inteligência do Padre Gervásio, a serenidade do Padre Raimundo.

Com sua abrangência irradiada por algumas capelas, como Balanço, Fátima, Marimba, Redondo, a Paróquia que tem a Virgem da Conceição como Padroeira, teve, nestes cinquenta anos, um importante papel como elemento agregador de uma gente que, largada a própria sorte e enfrentando constantes adversidades, fortalece sua esperança em crenças e convicções que, aos domingos, continuam sendo anunciadas como promessas de novos tempos. 


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Adjamilton Pereira

Adjamilton Pereira

Adjamilton Pereira é Jornalista e Advogado, natural de Cajazeiras, com passagens pelos Jornais O Norte e Correio da Paraíba, também com atuação marcante no rádio, onde por mais de cinco anos, apresentou o Programa Boca Quente, da Difusora Rádio Cajazeiras, além de ter exercido a função de Secretário de Comunicação da Prefeitura de Cajazeiras.

Contato: [email protected]

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Adjamilton Pereira é Jornalista e Advogado, natural de Cajazeiras, com passagens pelos Jornais O Norte e Correio da Paraíba, também com atuação marcante no rádio, onde por mais de cinco anos, apresentou o Programa Boca Quente, da Difusora Rádio Cajazeiras, além de ter exercido a função de Secretário de Comunicação da Prefeitura de Cajazeiras.

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